As marcas portuguesas estão a expandir-se além-fronteiras, a passar do universo digital para lojas físicas em locais de prestígio e a conquistar mercados internacionais. Descubra o que torna as suas criações únicas e verdadeiros objetos de desejo.
Num mundo em que a moda é cada vez mais um espelho de identidade, Portugal afirma-se como protagonista de um novo capítulo criativo. Marcas como ISTO., Cata Vassalo, +351, Josefinas e Constança Entrudo conquistam o mercado nacional ao mesmo tempo que chamam a atenção dos olhares exigentes de consumidores internacionais. A moda portuguesa está na moda – e não é por acaso.
Estas marcas personificam um novo luxo: consciente, artesanal, com alma e raízes.
Têm em comum uma forte componente autoral, respeito pelo tempo (da criação à produção) e uma abordagem estética que conjuga o minimalismo contemporâneo com o espírito atlântico que define a nossa cultura.
Cata Vassalo
Morada permanente
Foi no passado mês de junho que Cata Vassalo abriu as portas da sua nova loja no Amoreiras Shopping Center, em Lisboa. Depois do sucesso alcançado com o quiosque temporário neste que é um dos mais emblemáticos centros comerciais da capital portuguesa, a joalheira portuguesa conhecida pelos toucados, bandoletes, brincos e colares inaugurou um espaço permanente com cerca de 20 m2 que não deixa indiferente quem por ali passa: de montras com canteiros cheios de flores a um elegante balcão verde-musgo, onde se destacam as peças douradas, passando por um cabide com peças de roupa únicas e prateleiras cheias de colares excêntricos, brincos XXL, carteiras em croché com aplicações brilhantes e bandoletes com pérolas. E porque personalização é o que diferencia uma marca de luxo de uma tradicional, no segundo piso desta nova loja encontra-se um showroom privado para noivas e encomendas sob medida, zona que só abre por marcação (entre as 10h e as 19h).
Esta nova loja simboliza a evolução da marca: um espaço onde tradição e modernidade se encontram e onde cada detalhe é pensado para oferecer uma experiência verdadeiramente personalizada.
+351
De Lisboa para o mundo, com sotaque português
Com raízes bem assentes na capital portuguesa e uma identidade que nunca esconde de onde vem, basta pensar no nome, a +351 somou um novo passo na sua expansão internacional com a abertura da primeira loja fora de Portugal: uma pop-up store em pleno bairro do Marais, em Paris.
Criada em 2014 por Ana Penha e Costa, a +351 combina conforto, sustentabilidade e uma estética descomplicada. As peças, desenhadas em Lisboa e produzidas em pequenas quantidades no norte do país, já conquistaram clientes no Japão, Espanha e EUA. Agora, com esta presença em Paris, a marca reforçou a sua vocação global, sem perder o sotaque português.
A pop-up, que esteve aberta até ao final do mês de julho, celebrou o estilo de vida leve que a +351 representa, com peças em algodão orgânico e uma edição especial com o slogan Soleil c’est la vie. O espaço acolheu ainda colaborações e eventos com música, arte e sabor portugueses. Uma nova etapa para uma marca que, há dez anos, começou com umas simples saudades de casa.
Josefinas
Um passo de cada vez
Há marcas que nascem de uma estratégia e há outras que nascem de um ideal. A Josefinas pertence à segunda categoria. Criada em 2013 por uma antiga bailarina e uma empresária improvável no universo do calçado, a marca portuguesa começou com um par de sabrinas cor-de-rosa e uma pergunta que ressoava com força: “Porque não haveria de haver sapatos rasos com identidade, propósito e beleza?” Hoje, mais de uma década depois, os sapatos da Josefinas chegam a mais de 160 países e continuam a ser feitos à mão em oficinas familiares portuguesas.
Ao contrário de muitas histórias de sucesso, a Josefinas rejeitou desde o início a produção em massa e preferiu crescer devagar: as peças são produzidas em pequenas quantidades, com matérias-primas de origem controlada e cada encomenda leva consigo um cartão assinado pela equipa.
O mercado internacional não tardou a reconhecer esse valor. Em 2015, as Josefinas chegaram aos pés (literalmente) de figuras como Chiara Ferragni, Leandra Medine e Olivia Palermo, tendo a partir daí conquistado espaço em revistas, blogues e closets de referência. Durante um ano, a marca testou o modelo físico com uma loja em Nova Iorque. Depois, voltou a focar-se no digital, onde mantém uma ligação próxima com uma comunidade global de mulheres que procuram qualidade, consciência e uma história para contar.
ISTO.
Básicos portugueses com ambição global
Desde 2017, a ISTO. tem provado que vestir bem pode ser sinónimo de responsabilidade. Com uma transparência radical, produção local e materiais orgânicos, a marca portuguesa desafia as regras da moda rápida e aposta num modelo mais consciente – e agora, também mais internacional.
Após várias pop-ups pela Europa, a ISTO. abriu em Berlim a sua primeira loja permanente fora de Portugal. O espaço na Alte Schönhauser Strasse reforça a ligação com o público alemão, um dos mercados mais fortes da marca. Também os Países Baixos fazem parte do mapa, com uma loja em Haarlem.
A notoriedade além-fronteiras tem crescido, com nomes como Ryan Reynolds, Ethan Hawke ou Ramy Youssef a usarem peças da etiqueta. Sempre fiéis aos seus valores (Independent, Superb, Transparent, Organic), os fundadores continuam a expandir com calma e propósito. A meta? Levar os essenciais portugueses cada vez mais longe, sem nunca perder o rumo que os define: qualidade, transparência e respeito por quem veste (e por quem faz).
Constança Entrudo
O tecido como obra de arte
Com uma estética singular e uma abordagem profundamente experimental, Constança Entrudo é uma das criadoras mais estimulantes da nova moda portuguesa. Fundadora do estúdio homónimo sediado em Lisboa, a designer formou-se na prestigiada Central Saint Martins e colaborou com nomes como Balmain e Peter Pilotto antes de lançar, em 2019, uma marca que cruza investigação têxtil, identidade e sustentabilidade.
A sua prática distingue-se pela técnica un woven, uma construção têxtil desenvolvida fio a fio, muitas vezes a partir de excedentes, que funde tecnologia com saber artesanal. Em Second Best, coleção de outono-inverno 2025, Entrudo explorou o valor do segundo lugar, sublimando materiais “menores” em peças de grande delicadeza visual, inspiradas no desporto e nas memórias afetivas.
O sucesso da designer tem ultrapassado fronteiras: artistas como Rosalía e SZA já vestiram as suas criações, e o reconhecimento internacional acompanha o interesse crescente do público português por uma moda de autor com alma.
Para Constança Entrudo, o luxo reside no processo meticuloso, consciente e próximo entre criador, técnica e território. É neste gesto têxtil e humano que propõe um futuro possível para a moda feita em Portugal.
O que torna estas marcas tão especiais?
Há um fio condutor que une estas diferentes propostas: a valorização do feito em Portugal, a aposta na produção sustentável e a coragem de criar a partir de uma identidade própria, sem concessões. Não há aqui espaço para cópias ou fórmulas rápidas. Estas marcas constroem universos visuais, éticos e emocionais que se ligam a consumidores exigentes e informados, sedentos de autenticidade.
Além disso, a passagem do digital para o físico, com lojas em localizações estratégicas como o Chiado, a Avenida da Liberdade ou capitais internacionais como Berlim e Madrid reforça a presença destas marcas num mercado global onde o contacto direto com o produto continua a ser uma experiência insubstituível.
Por Madalena Alçada Baptista