É uma tendência que veio para ficar: perfumes intensos e quentes, com a presença notória de especiarias e oud. Mas o que levou o Ocidente a apaixonar-se pelos chamados perfumes orientais?
A terminologia nunca é totalmente consensual. Numa altura em que o mundo ocidental se rendeu definitivamente à intensidade das fragrâncias exóticas, há quem defenda que o tema “oriental” aplicado aos perfumes deveria ser substituído por outro – o mais votado tem sido âmbar – por ser considerado ultrapassado e pejorativo ao colocar debaixo do mesmo chapéu mais de metade do mundo – o Oriente em contraponto com o Ocidente. É como se a Europa fosse o centro do planeta e o “oriente” fosse apenas algo distante e exuberante. Mas, polémicas à parte, a verdade é que o perfumes ricos e que perduram na pele são atualmente os eleitos de grande parte da população, tanto de homens como de mulheres (outra assunção recente: os aromas não têm género, mas isso é um outro debate…).
Independentemente do nome que lhes damos – orientais, árabes, ambarados – a verdade é que nunca o nosso olfato (e pele) se sentiu tão seduzido por aromas profundos e ricos como agora. Depois de uma era – décadas 80 e 90 do século XX – em que os best sellers foram perfumes frescos e cítricos como L’Eau d’Issey e One by Calvin Klein à qual se seguiram aromas mais florais e românticos – Miss Dior, Chanel Nº5, etc. – chegamos a um momento na história em que as adolescentes desejam para si as fragrâncias que seriam mais comum encontrar na cómoda das suas avós: Opium, de Saint Laurent, ou Poison, da Dior, para dar apenas dois exemplos.
Várias razões podem ser apontadas para esta viragem nas preferências olfativas globais. Em primeiro lugar, a facilidade de acesso a perfumes produzidos em países longínquos e que agora estão à distância de um click. Como tão bem sabemos, é fácil procurar perfumes orientais de nicho online e fazer com que cheguem até nós vindos do outro lado do mundo num curto espaço de tempo. Mas antes da encomenda online, há a motivação e aí, sim, as redes sociais têm a importância que se sabe em quase tudo nos dias que correm. Nas redes sociais, há algum tempo começaram a tornar-se virais versões acessíveis dos chamados perfumes orientais, intensos e “vestidos” em embalagens de “luxo” (veludos, dourados, caixas rígidas como se de cofres se tratassem). É como se, de repente, todos pudessem ter acesso ao exotismo e ao aroma a requinte que anteriormente era exclusivo a apenas alguns… e, de facto podem. É óbvio que um perfume árabe que custe 40 euros não pode ter a mesma pureza de ingredientes do que um de 300 euros, mas, com o avanço tecnológico, a verdade é que existem fragrâncias que, mesmo a um preço irrisório, perduram na pele. Não serão exatamente dupes, mas são aproximações possíveis.
Parece que a presença de oud (árabe para wood e que, na sua forma mais pura, é uma resina natural extraída de uma árvore do sudoeste asiático que se encontra em maior quantidade no Bangladesh, Tailândia e Indonésia) na pele de alguém é um indicador direto da sua capacidade de viajar o que, numa altura em que os países que se conhecem é um símbolo de status tão ou mais importante que o carro que se conduz, é relevante. A democratização dos voos intercontinentais e os constantes vídeos nas redes sociais das inúmeras pessoas que se passeiam pela Índia ou o Dubai criaram a necessidade de transportar o exotismo – mesmo que só aspiracional – para dentro de um sofisticado frasco de perfume.