
Na hierarquia das marcas de luxo, a francesa Hermès está bem lá no topo. Porque há um legado que não é o dinheiro que compra, mas sim o respeito por séculos de tradição e excelência técnica.
Mergulhar profundamente nos valores de marcas de referência como a Hermès para conhecer não apenas a sua história, mas também, obviamente, as novidades que vão sendo lançadas regularmente, tendo a possibilidade única de ir para lá do que é de acesso público numa viagem exclusiva ao verdadeiro espírito da marca é manifestamente uma honra a que poucos têm acesso.
Um desses momentos mágicos foi o lançamento, já há uns anos, de um dos perfumes da marca: o Galop d’Hermès. Num cenário suave e misterioso na mesma medida, foram revelados, numa coreografia perfeita, as notas e o conceito de um perfume inspirado na herança equestre que acompanha a marca desde os seus primórdios.
A começar pelo nome – Galop –, acabando no frasco em forma de estribo que prova como de uma peça utilitária se pode retirar delicadeza e beleza, e passando pela junção das notas de cabedal e rosa, tudo no perfume evoca Hermès. E, tal como a fragrância, o evento do seu lançamento foi suave, pontuado por um bailado onde o movimento dos corpos remetia para a elegância dos cavalos e os tons dominantes eram os castanhos típicos das selas.
Este foi um grande momento Hermès, entre tantos outros. A possibilidade de mergulhar fundo na identidade da marca e que confirma aquilo que é a essência de uma marca histórica de luxo: o que se é sussurra-se, nunca se grita. E, muitas vezes, nem se refere. A segurança de um passado rico anula o ruído de brilhos superficiais. E isso é tudo.
A relatividade do que é luxo é o oposto da certeza absoluta que são séculos de vida. É nessa dicotomia que se situa uma marca como a Hermès, que, por continuar a existir com o rigor criativo da manufatura que lhe é próprio – o que naturalmente limita a produção –, cria desejo. Desejo por algo que transporta em cada peça feita de savoir-faire secular e tempo (aquele ingrediente raro e insubstituível). Desejo por algo que não se traduz em números nem obedece à pressa de quem é movido por deslumbramento. Desejo legítimo por objetos que não são temporários nem imediatos e que, por isso, se fazem esperar. A prerrogativa de uma marca com quase 200 anos é poder escolher quem quer que faça parte do seu mundo. Uma “senhora” que não entende fascínios vazios e muito menos se deixa seduzir por carteiras recheadas. Ela sabe exatamente quem é, e o nome que carrega é o único valor que a move. Essa inabalável confiança torna-a, claro está, ainda mais desejável.
Nos primórdios está a data da sua fundação, 1837, e o empreendedorismo de Thierry Hermès, um francês que achou que havia mercado para o fabrico de arreios para cavalos e que nunca sonhou com um futuro da dimensão que a Hermès forjou para si desde essa data até aos dias de hoje.
2024 é um ano especial para a marca. Em primeiro lugar porque 24 é um número que faz parte da história Hermès. Não só a icónica loja da rua Faubourg Saint-Honoré, em Paris, fica situada no número 24, como este ano celebra 100 anos desde a data em que foi inaugurada nos moldes atuais, em 1924. Se é verdade que todos os anos a Hermès tem um tema, que declina de várias formas e que transporta para algumas iniciativas memoráveis, este ano a escolha não podia deixar de ser o Espírito do Faubourg, espírito esse que, segundo Pierre-Alexis Dumas (diretor criativo da Hermès) não é palpável: “O número 24 da rua Faubourg Saint-Honoré encerra um segredo que é ainda maior porque ninguém o conhece. Acredito que é por isso que o espírito do Faubourg nos comove a todos e pode ser sentido onde quer que a Hermès esteja presente.”
Mas, mais que relembrar o passado, este é o ano em que se celebram memórias, as de todos os que passaram pelo número 24 da rua Faubourg Saint-Honoré ao longo de 100 anos. Daqueles que lá trabalharam e daqueles que lá entraram por paixão. “É uma morada onde a nostalgia é constantemente confrontada com os ventos de mudança”, continua Dumas. “O Espírito do Faubourg chega do passado profundo da Hermès, flui alegremente no nosso presente e lança-nos com confiança para o futuro. Um futuro amplo e aberto, como as portas do número 24.”
Este ano, como todos os outros, Hermès será sempre sinónimo de desejo. E, como todos os desejos que vale a pena concretizar, só estará disponível a quem sabe que os verdadeiros valores, os que importam, não se quantificam. Merecem-se.
A Hermès em números:
16 métiers
60 ateliês
294 lojas
45 países
22.000 empregados – 7000 são artesãos
A loja de Lisboa
Foi inaugurada em 2001, na zona do Chiado (Largo do Chiado, n.º 9), em Lisboa, num edifício do século XVIII, onde permanece até aos dias de hoje. Foi recentemente renovada e aumentada, tendo reaberto no passado dia 24 de fevereiro (de 2024), sublinhando mais uma vez a relevância do número 24 para a marca. Todas as lojas do mundo são desenhadas pelo mesmo ateliê (dirigido por Rena Dumas, mulher de Jean-Louis Dumas, quinta geração da família Hermès), com a missão clara de todas elas terem uma mesma linguagem estética, seja qual for a geografia onde se encontrem, de forma a uniformizarem a experiência para os clientes, num espaço que lhes seja familiar. No entanto, há sempre elementos que homenageiam o país onde se encontram. Na loja de Lisboa um dos principais elementos locais é o chão, inspirado na calçada portuguesa.
Com a remodelação, a loja de Lisboa passa a ter dois novos métiers – joalharia e peças bespoke (feitas à medida) – disponibilizando assim quinze do total de dezasseis métiers que a marca possui. Um banco desenhado por Álvaro Siza Vieira e tapetes feitos manualmente por artesãos portugueses são outras das referências locais presentes na única loja da marca Hermès existente em Portugal.