O N°5 viu a luz do dia em 1921. Foi a primeira fragrância criada por Gabrielle Chanel. Um número simbólico, que inspirou uma geração de criadores e esteve na base da mudança da indústria.
Era sua intenção libertar a feminilidade das suas restrições olfativas, da mesma forma que usava as suas criações para libertar mentes e afirmar um novo estilo. Durante esta época, as fragrâncias no mercado limitavam as mulheres, de um modo geral, ao perfume de uma única flor, como o lírio-do-vale, a violeta ou o jasmim. Rompendo com as tradições da sua época, o rasto olfativo abstrato do N°5 é um reflexo da personalidade de Gabrielle Chanel.
Com o N°5, o perfumista Ernest Beaux desenhou uma composição vanguardista, combinando os melhores ingredientes naturais com moléculas sintéticas — aldeídos — e outras originais, na época, em proporções inéditas por forma a exaltar as notas da fragrância. O N°5 escapa à comparação com outras fragrâncias e não obedece a nenhuma regra. Foi o ponto de inflexão que inaugurou a era moderna do perfume e mudou a sua história. O N°5 é uma fragrância pioneira.
De um perfumista para o outro…
Os três perfumistas que sucederam a Ernest Beaux herdaram um dever comum: proteger a fragrância icónica da maison. A fórmula secreta do N°5 foi transmitida a Henri Robert, Jacques Polge e agora a Olivier Polge. “Preservar o N°5 requer a minha atenção constante”, diz Olivier Polge, perfumista-criador in-house da Chanel desde 2015. É sua responsabilidade supervisionar a origem das matérias-primas que compõem a fragrância icónica e garantir que a sua qualidade seja mantida. O seu ano organiza-se em torno do calendário de colheita dos ingredientes utilizados para compor o N°5, entre os quais se destacam o jasmim e a rosa-de-maio de Grasse. Da colheita aos métodos de extração, Olivier Polge acompanha cada etapa do processo em parceria com o Laboratório de Criação e Desenvolvimento de Fragrâncias da Chanel.
… e a arte de se reinventar
Desde a sua criação (1921), o N°5 tem sido para a Chanel o que a gramática é para a linguagem, determinando o estilo de todas as outras fragrâncias da maison. Um manifesto que declara a liberdade absoluta do criador e da criação. A força motriz e a alma da casa. O N°5 é uma fonte inesgotável de inspiração. Parfum é a mais preciosa das interpretações e representou uma rutura com as fragrâncias de nota única que prevaleciam naquela época: o bouquet floral intenso contém uma mistura particular de rosa-de-maio e jasmim de Grasse. A fórmula, que também se caracteriza pelo uso inédito de aldeídos, catapultou a perfumaria para a era moderna. Três anos depois, Ernest Beaux criou a primeira variação do N°5. Mais amadeirada do que a fragrância original, a Eau de Toilette distingue-se pelas nuances secas e vivas do vetiver, compensadas pelo aroma profundo de sândalo. Atento à evolução das tendências do setor, Jacques Polge criou uma terceira interpretação do N°5. A Eau de Parfum oferecia uma nova concentração. Um bouquet floral-aldeídico, luxuoso e opulento, com uma nota de baunilha, para uma assinatura oriental.
A quarta versão do N°5, arejada e luminosa, é lançada em 2008. Para reinterpretar a assinatura da fragrância original, Jacques Polge utilizou almíscares brancos, omnipresentes nas fragrâncias dos anos 2000, além de aldeídos desenvolvidos pela Chanel a partir de essências cítricas. “O vestígio olfativo da Eau Première revela outra textura, mais próxima da pele”, salienta Polge, que assina, oito anos depois, N°5 L’Eau, uma Eau de Toilette fresca e floral. N°5 L’Eau é, talvez, a variação que mais se diferencia das demais, mas as notas utilizadas por Olivier Polge são as mesmas e tal ilustra a ideia de que na perfumaria tudo é uma questão de proporção.