A muito aguardada lista dos The World’s 50 Best Restaurants 2024 já é conhecida e a cerimónia da entrega dos prémios aconteceu no luxuoso Wynn Las Vegas. O evento anual, que reuniu os melhores chefs de cozinha, empresários da restauração e ícones da indústria hoteleira, incluiu restaurantes de 26 territórios, cinco continentes e oito novas, e saudadas, entradas. Escolhemos os dez melhores do mundo agora eleitos onde ir é sempre uma lição gastronómica, cultural e estilística.
Disfrutar, Barcelona, Espanha, n.º 1
Aberto desde dezembro de 2014, o Disfrutar é um projeto de Mateu Casañas, Oriol Castro e Eduard Xatruch, que se conheceram e formaram profissionalmente no El Bulli e consolidaram o trabalho realizado no Compartir (abril de 2012), em Cadaqués. Os três chefs dão asas à sua imaginação no Disfrutar, situado no Eixample, bairro de Barcelona mesmo em frente ao Mercado Ninot, onde prosseguem a tradição da gastronomia molecular espanhola de vanguarda. O restaurante estreou-se na lista do The World’s 50 Best em 2018, no 18.º lugar, um ano depois de ter ganho o prémio Miele One To Watch e de ter levado para casa o prémio Highest New Entry. O design do Disfrutar é outra das suas qualidades, com referências ao Mediterrâneo e a Barcelona por via da cerâmica, ferro forjado e cores do barro. Um espaço mediterrânico com um ambiente intimista e uma cozinha criativa, pensada para desfrutar e descobrir. Afinal, é o número 1!
Asador Etxebarri, Atxondo, Espanha, n.º 2
Foi o classificado n.º 4 no âmbito dos The World’s 50 Best Restaurants em 2023 e o n.º 6 no ano anterior. Em 2024, salta para o segundo lugar. Victor Arguinzoniz, o chef que opera a grelha, dá nome e alma à casa e sacia apetites gulosos. O Asador Etxebarri destina-se, como se lhe refere o Guia Michelin, aos “amantes da gastronomia”, que “afluem a este templo da cozinha como peregrinos a um santuário religioso para descobrir os segredos da cozinha grelhada na chama, dominados pelo chef proprietário Victor Arguinzoniz, a vida e a alma do asador, que investiu tudo no seu sonho”. Do melhor churrasco espanhol — onde se inclui a enorme placa de txuleta, proveniente de vacas leiteiras reformadas — ao milho estaladiço com ouriço-do-mar, as iguarias são várias e fazem crescer água na boca. Todas as carnes são cozinhadas em grelhadores de calor ajustável, construídos pelo próprio chef!
Table by Bruno Verjus, Paris, n.º 3
“O nosso compromisso com a cozinha ‘na hora’ implica uma relação direta com os nossos produtores locais. Estes fornecem-nos, todos os dias, o que a Natureza tem para oferecer. Não fazemos encomendas de quantidade, apenas de qualidade. A exemplaridade do seu trabalho, sem pesticidas e respeitando a natureza selvagem do solo, respeita a saúde dos nossos clientes e a da nossa terra’”, assim escreveu Bruno Verjus. A história do Table começa com o respeito. “O respeito pelos produtos”, que o chef Bruno Verjus — figura notável da gastronomia mundial, que já foi empresário, blogger e crítico gastronómico — dirige “como atores do seu prazer, ouvindo o seu temperamento”. No Table, os clientes podem testemunhar a forma como Verjus aborda os ingredientes, aviva as suas cores e sabores, caso dos grandes espargos verdes escalfados com algas marinhas ou da lagosta com ervilhas, urtiga e remoulade de alcaparras. O Table entrou imediatamente para o top 10 na sua primeira entrada na lista The World’s 50 Best Restaurants em 2023.
Diverxo, Madrid, n.º 4
Irreverente, vanguardista e uma lufada de ar fresco no panorama dos restaurantes em Madrid, com pratos como a lagosta galega, nigiri maturado durante 45 dias ou risoto de manteiga tostada com trufa de verão, a cozinha de Dabiz Muñoz ecoa “o seu mundo pessoal e onírico”. O classificado em 4.º lugar na lista dos cinquenta melhores restaurantes do mundo, na capital espanhola, é um polo criativo onde a utilização predominante de ingredientes locais e a capacidade de recriar memórias do país por via dos sabores é notável. “Destacando temas como as espécies invasoras e o ecossistema dos Pirenéus, o chef trabalha sem limites, combinando ingredientes locais e condimentos exóticos” em pratos intensos e ricos em contrastes.
Maido, Lima, Peru, n.º 5
Mitsuharu “Micha” Tsumura nasceu em Lima, mas tem ascendência japonesa (Osaka, Japão). O chef e proprietário do Maido, que estudou Artes Culinárias e Gestão de F&B na Universidade Johnson & Wales, EUA, especializou-se na cozinha do Japão, que hoje combina com a peruana (designada nikkei), aplicando técnicas e ingredientes do país do sol nascente. Elegante, o restaurante está situado em Miraflores, o bairro cosmopolita de Lima, e foi inaugurado em 2009 “pelo carismático Micha, que ali serve um menu de degustação e um menu à la carte, com iguarias como The Triple, uma combinação de abacate, ovos, tomate e chashu (barriga de porco braseada), e caracoles al sillao (molho de soja) com espuma de malagueta amarela e molho nikkei. Micha foi ainda eleito pelos seus pares como o vencedor do prémio Estrella Damm Chefs’ Choice Award no The World’s 50 Best Restaurants 2024.
Atomix, Nova Iorque, n.º 6
Trata-se do segundo projeto de Junghyun e Ellia Park e, tal como a palavra ato (antiga palavra coreana para “presente”) sugere, o Atomix procura apresentar ao mundo uma cozinha coreana inovadora e dar a conhecer as muitas facetas da sua cultura. “A viagem do Atomix começa quando os convidados entram no espaço, na East 30th Street, em Manhattan”, referem. Os materiais naturais e neutros, o mobiliário e a iluminação estudados para gerar no cliente uma sensação especial de acolhimento e a forma como se circula no Atomix são, também eles, ingredientes fundamentais nesta história. Aqui, o jantar coreano serve-se com sofisticação, sem perder de vista a herança. Borrego com deodeok ou o pepino-do-mar servido com camarão e ovo sobre arroz, tudo levado à mesa em bonitas cerâmicas feitas à medida, acompanhadas por um cartão com breves informações sobre os ingredientes, a origem e a inspiração, fazem deste o melhor restaurante dos EUA em 2024.
Quintonil, Cidade do México, México, n.º 7
O n.º 7 na lista dos cinquenta melhores recebe o nome de uma erva verde presente nalguns dos pratos e bebidas ali servidos e é, lemos, uma opção para quem procura ingredientes frescos e locais e sabores tradicionais mexicanos. O virtuoso chef Jorge Vallejo e a mulher, Alejandra Flores — licenciada em Gestão de Restaurantes pelo Centro de Estudios Superiores de San Ángel (CESSA) e com um mestrado em Gestão Hoteleira e especialização em Marketing pela Escola de Les Roches, na Suíça —, abriram o Quintonil em 2012, dando expressão à sua criatividade, vocação e expertise. O menu de verão inclui atole de elote y nabos, hierbas de la milpa (papa fria de milho e nabo), atum-rabilho (15g) com aguachile de brássicas, pó de gelo de wasabi, rabanete de melancia em conserva e ervas aromáticas, caranguejo-mouro (25g) em pipián verde de sementes de girassol, lima tailandesa e manjericão, entre outros.
The Alchemist, Copenhaga, Dinamarca, n.º 8
É, segundo a descrição da organização do The World’s 50 Best Restaurants 2024, um convite a uma viagem “diferente de tudo o que já experimentou num restaurante (…), a vivência de um jantar teatral e imersivo”, liderado por Rasmus Munk, “conhecido por fundir técnicas clássicas, investigação moderna e os melhores produtos disponíveis, resultando numa comida cheia de sabor, mas também com mensagens poderosas sobre o ambiente e outras questões sociais importantes”. A experiência Alchemist consiste num máximo de cinquenta impressões acompanhadas por uma combinação de bebidas à escolha. Tem a duração de 4-6 horas e os únicos pré-requisitos são a curiosidade e a presença de espírito.
Gaggan, Banguecoque, n.º 9
O chef indiano Gaggan Anand lidera as operações naquele que foi considerado o Melhor Restaurante da Ásia em 2024 no âmbito do The World’s 50 Best Restaurants. Classificado em nono lugar, o Gaggan tem na sua liderança um “chef de cozinha, um músico, um sonhador, um romântico louco, um rebelde e um maestro, ou o caos, na cozinha”, como ele próprio se define! No Gaggan, na atribulada Banguecoque, pratica-se e reinventa-se a alta-gastronomia, redescobre-se “a alegria de ter um restaurante e garantir que não nos aborrecemos com o que fazemos”. O menu de degustação de 22 pratos descreve a sua visão e narrativa vibrantes; a sua “cozinha indiana progressiva, com o recurso a técnicas modernas e ingredientes globais, resulta em pratos intrigantes, cada um contando uma história única”.
Don Julio, Buenos Aires, n.º 10
Don Julio abre em 1999, no papel de uma churrascaria de bairro convencional, mas honesta, pelas mãos do jovem Pablo Rivero, cujas memórias familiares estão intimamente ligadas às atividades de talhante, a avó, e de criadores de gado, os pais. São, por isso, poucos os que ainda erguem uma sobrancelha de dúvida e desconhecimento quando o nome de Pablo Rivero — o chef e proprietário de uma das melhores parrillas do mundo da atualidade —, assoma à conversa. Reservar uma mesa no Don Julio é sempre difícil. É conhecida a sua paixão e ligação ao mundo da carne e à forma como o chef entendeu esse legado e tão bem soube interpretá-lo numa steakhouse onde as raças Hereford e Angus, as noções de sustentabilidade e criação regenerativa bem presentes, a forma como as carnes estão expostas, com alguma espetacularidade, o grelhador em V, que aproveita a gordura das carnes, e a garrafeira de vinhos argentinos (contam-se mais de 14.000 rótulos do país) se evidenciam. O Don Julio, com um respeitoso décimo lugar na lista dos cinquenta melhores, “representa a Argentina nos maiores palcos gastronómicos com a paixão inigualável de Rivero pela agricultura orgânica e pelos produtos locais”. Rivero também mereceu o prémio Beronia World’s Best Sommelier Award 2024 no The World’s 50 Best Restaurants.