O filme de culto, baseado no romance homónimo de E. M. Forster, foi o último a ser realizado pelo consagrado David Lean. Nomeado para onze prémios da Academia de Hollywood e vencedor em duas categorias, o drama épico é a inspiração para este périplo pela Índia das cores, dos mais belos entardeceres, dos palácios de luxo, das plantações de chá e das praias douradas de Goa, agora que se celebram 40 anos da estreia de Passagem para a Índia.
A cena principal do filme “Passagem para a Índia” acontece durante uma expedição às cavernas de Barabar (Marabar no filme), câmaras escavadas na rocha, acredita-se, pelo Império Maurya, por volta de 250 a.C., sendo a mais famosa a Lomas Rishi, com a sua entrada decorada com aquele que é considerado o mais antigo chandrashala, um motivo centrado num arco ogee, circular, que decora muitos dos mais belos exemplares de arquitetura indiana, com ricos entalhes na rocha. A Índia é isto mesmo, um país onde a riqueza transborda. A riqueza natural, a dos palácios e templos, dos têxteis e especiarias, mas também a da riqueza gastronómica e cultural, tudo amplamente suportado por uma oferta de restauração e hotelaria de elevado nível.
Sabores complexos e chefs de renome
São muitos os chefs indianos, hoje dispersos pelo mundo, que prosseguem a tradição do receituário do seu país, seduzindo apetites e convocando todos os sentidos à mesa. Esta globalização não só deu a conhecer as iguarias da Índia dos maharajas para lá das suas fronteiras, como catapultou alguns dos restaurantes onde estes chefs trabalham para as listas dos melhores do mundo.
Qualia, Mumbai – Considerado um dos melhores 50 restaurantes da Índia, no Qualia os clientes são parte integrante da prática culinária. A sucessão de espaços, que respeita a forma linear do restaurante, é acentuada pela inserção de detalhes materiais delicados, transformando a refeição num evento teatral. Rahul Akerkar, bioquímico e chef, atua neste palco reluzente, de móveis vermelhos e cortinas de malha, que deixam adivinhar a chegada dos pratos, agridoces, inesperados, alguns deles de inspiração mediterrânica.
Masque – Situado numa das antigas fábricas de tecidos da cidade, o Masque tem na seleção dos ingredientes, todos de origem local e escolhidos pelo chef Varun Totlani, a sua nota distintiva. Os menus de degustação de dez pratos — o primeiro do género na Índia — combinam tradição e inovação e resultam de muita pesquisa, o que veio dar origem ao Masque Lab, a cozinha laboratorial do restaurante, inaugurada em 2020.
Noon – O elegante Noon, inaugurado em 2022, em Mumbai, dedica-se à reinterpretação da culinária indiana por meio de práticas antigas de fermentação e, sobretudo, do uso inovador de bolor. Sob a liderança da renomada chef Vanika Choudhary, uma pioneira no movimento farm to table na Índia desde a abertura do Sequel, em 2016, o Noon destaca-se pela sua filosofia culinária singular. O restaurante oferece um menu de degustação composto por dez pratos, cada um deles inspirado nas nuances das mudanças sazonais e a sua generosidade gastronómica transcende as fronteiras convencionais, propondo uma experiência requintada e contemporânea.
Misu 2.0 – A interpretação ousada de um restaurante dentro de uma igreja com elementos ocidentais clássicos e coloniais, cuja iluminação indireta deixa ver suavemente os arcos de malha e as paredes pintadas à mão para criar uma atmosfera íntima à noite. O Misu 2.0 é uma fusão de conceito e materiais, uma evolução maravilhosa do seu antecessor, sendo considerado um dos melhores restaurantes de Bangalore, e atualmente um dos mais trendy.
Night life e bar com vista
Aer Bar & Lounge, Four Seasons Hotel Mumbai – Ideal para uma comemoração, o bar fica no topo do Four Seasons Hotel de Mumbai, um dos melhores hotéis da cidade, e oferece vistas espetaculares do hipódromo Mahalakshmi, nas proximidades, e do mar. Aberto todos os dias, pode ser visitado em qualquer época do ano graças ao seu teto retrátil. O design é inspirado nos interiores art déco e o sofisticado menu de cocktails inclui todos os clássicos, além de alguns highballs picantes e uma seleção de vinhos exclusivos. Um lugar must-go-and-see.
A arte dos grandes costureiros
Em 2022, a cantora e rapper Megan Thee Stallion escolheu um vestido azul-ardósia feito sob medida pelo estilista indiano Gaurav Gupta para a sua estreia nos Óscares. Decorado com cristais e sinuoso, aquele vestido deu a conhecer a excelência do artesanato indiano.
Rahul Mishra, o primeiro designer indiano a desfilar na Semana de Alta-Costura de Paris, por seu turno, defende a combinação da slow fashion com o artesanato tradicional indiano. A marca AFEW Rahul Mishra, o acrónimo para ar, fogo, terra e água, incorpora a visão de Rahul Mishra de luxo sem esforço, fácil de usar e adaptado ao guarda-roupa da mulher moderna. Sabyasachi Mukherjee é mundialmente conhecido pelas suas criações grandiosas, enraizadas na cultura indiana. O designer é um dos favoritos dos boomers e dos millenials e a sua reputação já conquistou todos os casais de Bollywood e foi nomeado The Grand Winner Award na Mercedes Benz New Asia Fashion Week, em Singapura. Desde a restauração de arte vintage até à criação de obras de arte originais, o seu trabalho pode ser visto em todas as lojas Sabyasachi, mas também nas lojas de Christian Louboutin ou no Taj London.
Dormir no palácio
Na Índia, em qualquer região, são conhecidos os hotéis alojados em palácios, com jardins luxuriantes, perfumados por flores exóticas, decorados com fontes e pátios, além de interiores requintados e um serviço premium. Para esta viagem, escolhemos um pequeno boutique hotel: o Villa Palladio Jaipur. O lugar deixa em todos os que ali entram pela primeira vez uma sensação única, a de ser transportado para um sonho, para uma atmosfera de beleza, perfeição e surpresa. Aberto em setembro de 2022, o Villa Palladio Jaipur tem apenas nove quartos e faz parte de uma propriedade rural inspirada nas fabulosas tradições dos grandes hotéis do passado. Concebido como um retiro, este ‘país das maravilhas’ oferece aos hóspedes a oportunidade de mergulhar na história do país e na sua magnificência e riqueza, segundo os códigos da hotelaria do século XXI.
O Kumarakom Lake Resort, aclamado como o melhor resort de luxo da Índia, está situado nas margens do lago Vembanad, num dos destinos de férias mais trendy do país: Kerala. Estendendo-se por muitos metros quadrados de exuberante paisagem, foi premiado três vezes consecutivas pelo aclamado World Travel Awards e oferece uma estadia luxuosa e irrepreensível. Os seus quartos, villas e suítes, o spa Ayurveda, as piscinas e as casas-barco de estilo tradicional, além dos restaurantes e da loja de chá tradicional de Kerala, são muitas das suas qualidades.
Santuários de bem-estar
São vários aqueles que viajam em busca de retiros de paz, focados na promoção da sua saúde e bem-estar. A Índia é profícua em lugares assim, onde as práticas ancestrais de ioga e de massagem têm lugar, muitas vezes escondidas dos olhares alheios, na montanha ou junto ao mar, mas também nas grandes cidades. Agora disponível para não residentes, The Imperial Spa é um refúgio de rejuvenescimento em Nova Deli, unindo as antigas práticas de cura do aiurveda e do ioga. Aninhado entre jardins paisagísticos, inspira-se na intricada arquitetura marroquina, habilmente entrelaçada com motivos mongóis e indianos, e é um destino de cura que incorpora rituais exclusivos cuidadosamente selecionados, óleos personalizados e técnicas tradicionais.
“Athithi devo bhava” é a filosofia que define o Shreyas Retreat, em Bangalore. O termo significa, literalmente, que “um hóspede deve ser servido como Deus”. No Shreyas, esta filosofia foi amplamente adotada, acreditando-se que “todos são essencialmente divinos” e que os relacionamentos interpessoais, especialmente com os hóspedes, devem refletir isso mesmo. Os antigos tratamentos aiurvédicos e panchakarma, as terapias atuais, como fisioterapia, acupuntura, hidroterapia do cólon, terapias com lama, hidroterapias e uma ampla variedade de massagens sob a abordagem holística indiana, constam das propostas do Anaha.
O Six Senses Vana é um retiro de bem-estar impressionante e idílico localizado a uma curta distância de carro de Dehradun, no estado de Uttarakhand, no norte da Índia. Os itinerários dos retiros exploram o bem-estar físico, mental, emocional e espiritual através da prática de aiurveda, Sowa rigpa (cura tibetana), ioga, terapias naturais, spa, fitness e aqua. Vana, que é considerado o spa espiritual mais sublime da Índia, oferece um plano personalizado (os terapeutas são ex-alunos do Instituto de Medicina e Astrologia Tibetana, Men-Tsee-Khang) e atividades em grupo, como meditação e música, como parte integrante da rotina diária.
Na rota do chá
Darjeeling, no nordeste da Índia, entre os grandes Himalaias, no estado de Bengala Ocidental, é conhecido pelo seu chá, apenas ali cultivado e produzido, a altitudes que variam entre os 600 e 2000 metros acima do nível do mar. Todas as manhãs, quando a névoa se dispersa, as mulheres sobem os íngremes trilhos das montanhas em direção aos mais de 85 jardins que produzem os lendários chás pretos de Darjeeling. Colhido fresco todos os dias, o apreciado chá será depois saboreado por conhecedores de todo o mundo. Uma viagem ao mundo do chá Darjeeling é uma das experiências mais incríveis para quem visita a Índia. Escolhemos a histórica Glenburn Tea Estate, nas encostas cor-esmeralda de Darjeeling, numa combinação de luxo, serenidade e beleza natural, onde se conta, em primeira mão, a história da herança do chá. Fundada em 1859, a Glenburn passou para as mãos dos Prakashes, uma das famílias pioneiras na sua plantação na Índia. A tradição mantém-se até hoje e ficar na Glenburn é mergulhar neste património. Os bangalôs da era colonial com vistas para a majestosa montanha Kanchenjunga e as sessões guiadas de degustação de chá, visitas à fábrica e passeios pelos exuberantes jardins de Darjeeling são uma viagem ao início do ano 1900.