
A F Luxury recorda a entrevista realizada à dupla de estilistas portugueses, conhecida como os “Manéis”, da qual Manuel Alves fazia parte. A moda nacional perde um grande nome, com um legado intemporal e um percurso irrepreensível.
Juntaram forças no Porto, na década de 80, onde e quando tudo era tão novo e eufórico. Com o tempo, passaram de parte de um grupo arrivista e flamboyant a referência incontornável da moda nacional. Chamam-se ambos Manuel, um Gonçalves, o outro Alves. Por isso, toda a gente do meio – e todos os outros que gostariam de lhe pertencer -, lhes chamam afetuosa e intimamente os “Manéis”. O seu percurso, de peso, inclui a conquista de um Globo de Ouro “Personalidade de Moda”, o desenho dos uniformes para várias empresas, figurinos para o cinema, teatro e bailado, a criação de uma linha de cerâmica e uma outra de joias e de acessórios. Para referir algumas… Os anos oitenta em Portugal – e um pouco por toda a Europa – viram nascer a Moda como a temos conhecido até hoje. No final da década, havia já uma dúzia de nomes que faziam rumar o parco, mas entusiasta, grupo de modanti aos ainda poucos eventos de moda, a FIL, as Manobras de Maio e tão poucos mais. Desta dúzia alguns desapareceram, outros mudaram foco ou rumo. Os “Manéis”, ou melhor, Manuel Alves e José Manuel Gonçalves, seguiram. Sempre na fronteira da Moda e de qualquer outra Arte, que moda boa é moda assim. E o talento compensou. Ao fim de todo este tempo compensa ainda. Num negócio tão volátil e efémero como é a moda, e tão frágil na adversidade, é um orgulho falar com esta dupla que, frente a uma pandemia dizimadora de negócios, responde: “Claro que nos afetou, mas cá estamos!” Mas este é o agora e quisemos saber como foi o princípio, quando a Moda foi de encontro à dupla Alves/Gonçalves. Ou foi o contrário, os “Manéis” foram de encontro à Moda? “As duas situações são verdadeiras”, respondem-nos.
Leia, a seguir, a breve entrevista.
A dupla tem um tipo de mulher idealizado para a qual cria?
Não existe mulher-tipo, temos sempre em mente um pensamento sobre a mulher, em termos sociais, neste tempo presente. E é para essa em concreto que criamos.
Como é o vosso processo criativo? Na dupla, quem faz o quê?
Não temos regras, existe um planeamento ao qual ambos obedecemos.
Conseguem definir-se com um estilo?
Preferimos que sejam os outros a identificá-lo, da nossa parte é só fazer aquilo de que mais se gosta.
Como foram influenciados por este “novo paradigma” da moda, implicando novos timings, consciência eco, nova “imprensa” informal…?
Facilmente, e ainda bem que assim aconteceu! Uma das coisas fundamentais na Moda é a renovação, e que aconteça rapidamente!
Sentem, um pouco como tudo o resto, e desde sempre, a moda portuguesa de alguma forma periférica?
Nunca acreditámos em moda nacional. Acreditamos em pessoas cujo trabalho tem interesse independentemente da nacionalidade. Acreditamos que existem trabalhos periféricos, e quando se juntam periferias de diferentes nacionalidades, consegue-se um grande registo de trabalho.