Longa vida ao estilista italiano, recentemente falecido aos 83 anos, em Florença, conhecido pela sua paixão, na moda e na vida, pelo glamour, padrões coloridos, jeans desgastados adornados com joias e vestidos sensuais. “Se amas, ama até ao fim. Perdoa, se conseguires. Eu nunca fui capaz de o fazer. Amar, amar, amar. Esta deve ser a vossa palavra de ordem, desde que nascem até que renascem.”
Famoso por desenvolver um processo de impressão inovador em pele nos anos 1970 e pelos primeiros jeans stretch, com milhares de fãs atraídos pela sua ousadia estética, Roberto Cavalli construiu um império nos universos da moda e da fileira casa, atraindo os públicos feminino e masculino, mas também as celebridades, manequins, estrelas de Hollywood e do mundo da música que se reveem na forma como explora e lê a Natureza, as suas cores e texturas, assim como na atenção ao adorno e ao detalhe.
“Nunca deixem de acreditar em vocês próprios e nas vossas capacidades porque essa é a via a percorrem e a forma de desbravarem o vosso próprio caminho na grande aventura que será a vossa vida! Descubram o artista em cada um de vocês… olhem à volta e aprendam com a Natureza. Tem milhões de anos de experiência… Rodeiem-se de amor, porque o amor será o farol da vossa vida.” – Roberto Cavalli.
Just Me, o livro editado pela Mondadori, é a autobiografia ‘obrigatória’ em que o criador se dá a conhecer sem filtros. “Crítico e complacente, impulsivo e reflexivo, tímido e irreverente, leal e apaixonado, rude e doce: estes são apenas alguns aspetos da personalidade eclética do grande estilista Roberto Cavalli, que se revela em toda a sua autenticidade nesta autobiografia. Um homem que adora Gandhi e Che Guevara e odeia a respeitabilidade, os mal-educados e os ignorantes diplomados. Que compreendeu uma coisa na vida: “Se amas, ama até ao fim. Perdoa, se conseguires. Eu nunca fui capaz de o fazer. Amar, amar, amar. Esta deve ser a vossa palavra de ordem, desde que nascem até que renascem”. Em “Just Me”, Cavalli, autodesignado o “artista da moda”, também dá a conhecer alguns dos aspetos mais íntimos da sua vida, como a tragédia que marcou a sua infância, a culpa pelos fracassos escolares, o desconforto pelas inseguranças fonéticas e as primeiras confirmações profissionais. Conta os seus primeiros namoros delicados, as mulheres que amou, as suas viagens, os amigos que o acompanharam durante todos estes anos, a sua paixão pelos animais, os seus filhos, os muitos altos e baixos de uma vida que o levaram a ser hoje um homem feliz por “olhar as pessoas nos olhos, feliz por ter cinco filhos maravilhosos, feliz por sentir emoção quando vejo pela janela os primeiros pessegueiros em flor, porque anunciam a chegada da primavera, feliz por saber rir com alegria, feliz por saber chorar com emoção, feliz por nascer, e feliz até por morrer, quando chega a altura”.
Milão, Nova Iorque, Paris, o célebre desfile no Pitti Uomo na Ponte Vecchio, em Florença (2006), os vestidos criados para as muitas red carpets, a sua relação com Cindy Crawford, Lenny Kravitz, Jennifer Lopez, Michael Jackson ou Sharon Stone… Just Me é comovente e um “espelho de um homem simples, anárquico, complexo e genuíno, de um cowboy-rei que se desnuda em nome desse público irresistível que são os outros”, segundo descrição do editor.
Longa vida ao criador que abriu a sua primeira pequena loja em Saint-Tropez em 1972 e cujo sucesso o conduziu à exibição das suas primeiras peças em pele na Sala Bianca, em Florença, sem medo de competir com Missoni e Fendi. Longa vida ao visionário e destemido que nos deslumbrou com os seus padrões ricos e exóticos, inspirado pelos mundos da flora e da fauna, com o seu olhar sexy e estilo de vida luxuoso — detinha um iate e uma propriedade na Toscana com mais de uma dezena de hectares com heliporto, cavalos de corrida, Ferraris e muitos animais, entre eles um macaco e um tigre. Longa vida àquele que assinou um dos primeiros contratos com a H&M (2007) e levou milhares de fãs à loja da 5.ª Avenida (Nova Iorque), democratizando o luxo e a extravagância. Reverência ao homem que levou ao palco um vestido de noite em pele rosa que provocou tudo e todos ao criar o primeiro par de jeans com aspeto gasto e que introduziu a licra para dar elasticidade aos jeans justos — o que derivou na linha Cavalli Jeans, mais tarde nomeada Just Cavalli.
Respeito pelo artista que, em 2011, conduziu a Cavalli ao mundo do design de interiores, desenhando móveis, acessórios, papel de parede e tecidos, lançando uma linha doméstica de sucesso com a qual equipou com os clubes e cafés Cavalli em Itália, EUA e no Dubai.
“Querido Roberto, podes ter deixado de estar fisicamente conosco, mas sei que sentirei o teu espírito sempre comigo. É a maior honra da minha carreira trabalhar sob o teu legado e criar para a marca que fundaste com tanta visão e estilo. Descansa em paz, a tua falta será sentida e tu és amado por tantos que o teu nome perdurará, como um farol de inspiração para outros, e em particular para mim”, declarou Fausto Puglisi, diretor criativo da maison Roberto Cavalli (2023).
Imagens com direitos reservados F Luxury