É uma das intérpretes mais conhecidas da atualidade e o seu Instagram está no top dos 100 mais famosos de Portugal. Aurea, que dispensa apresentações, aceitou fazer parte da edição do 9.º aniversário da F Luxury e nesta entrevista fala da sua carreira, dos seus sonhos e aspirações, revelando que muita coisa mudou na sua vida, mas nem tudo…
A nossa revista faz 9 anos. Obrigado por fazer parte desta edição. Gosta de numerologia? O que lhe diz o número nove, por exemplo?
O nove é o mês do meu aniversário, por isso é um número que me é próximo e querido, que associo à vida e à comemoração. Foi uma maravilhosa coincidência ser convidada para fazer parte desta edição da F Luxury.
Como cantora, o seu corpo faz parte do espetáculo. Sente-se uma mulher diferente no palco e fora dele?
Com o passar do tempo, fui tomando uma consciência totalmente diferente do meu corpo. Hoje em dia é muito importante para mim cuidar dele, ter a minha saúde em atenção e sentir-me bem, com energia e confortável na minha pele para que possa, em qualquer circunstância, dar o melhor de mim.
Quando tem de atuar, o que mais a fascina neste lado visual da profissão?
Para mim, tudo faz parte do espetáculo: as luzes, a cenografia no palco… Aquilo que escolho para vestir em cada um dos concertos faz parte desse todo e é algo que adoro, pensar nas roupas, acessórios, na maquilhagem, nos penteados… Sou eu que normalmente trato de toda essa parte, desde o início da minha carreira, e é algo que me dá muito gosto.
É fã de tatuagens. Quando começou a fazê-las e porquê?
Fiz a minha primeira tatuagem aos 21 anos — foi o presente de aniversário dos meus pais— e desde aí que não parei mais. É uma arte lindíssima e fascina-me imaginar que o nosso corpo se transforma numa tela na qual os artistas fazem trabalhos extraordinários. Além disso, ter a minha pele marcada com as pessoas e os momentos mais importantes da minha vida faz, para mim, todo o sentido.
Nunca se arrependeu de alguma que tenha feito?
Arrependi-me de uma tatuagem que não foi feita ao meu gosto e estou a retirá-la para que possa ser refeita como sempre quis.
O seu Instagram está no top dos 100 mais famosos de Portugal. Como sente o carinho dos seus fãs?
Sou grata todos os dias pelo carinho que tenho recebido até hoje. As pessoas são incríveis comigo, e a abordagem é sempre muito carinhosa e extremamente educada. Não há outra forma de olhar para as pessoas que nos acompanham; é graças a elas que faço o que amo e, por isso, vou reconhecer e respeitar sempre quem me segue.
Alguma vez pensou que a menina que nasceu em Santiago do Cacém e viveu no Algarve até aos 18 anos seria uma das cantoras mais famosas de Portugal?
Nunca pensei que a minha vida tomasse este rumo, mas agradeço todos os dias por tudo ter acontecido como aconteceu.
Pensou em seguir psicologia, mas estudou linguística e acabou cantora. Houve muita indecisão quanto ao futuro a seguir?
Eu costumo dizer que andava perdida e não encontrava o meu lugar no mundo. Descobri-o aos 23 anos, quando a música se cruzou comigo, e a partir desse momento já não me imaginei a fazer outra coisa na minha vida. Sou muito feliz a cantar.
Pode partilhar alguma experiência memorável que tenha tido numa apresentação ao vivo?
Houve um momento muito engraçado num espetáculo que fizemos na Ásia. O nosso técnico de luzes informou-me que teríamos gelo seco nas laterais do palco e acautelou-me para que tentasse permanecer no centro para que nenhum acidente ocorresse, mas a meio do concerto e envolvida pela música, esqueci-me e fiquei com um pé colado ao gelo durante uns momentos. Continuei a cantar para que ninguém se apercebesse e lá consegui desenvencilhar-me; cantar descalça tem destas coisas.
Como escolhe o repertório para os seus espetáculos? Há alguma música com um significado especial?
O repertório vai-se alterando consoante o tipo de espetáculo que vamos fazer; as músicas mais conhecidas fazem sempre parte e as restantes vamos escolhendo dos vários discos que já foram lançados para que ir sempre renovando o alinhamento.
O curso de Teatro na Universidade de Évora serviu para o seu percurso como cantora?
O curso de Teatro ajudou-me, principalmente, a ultrapassar a timidez que me acompanha desde criança. Foi uma forma de conseguir rodear-me de ferramentas para lidar com isso e deu-me toda uma noção do que é estar em palco.
É verdade que uma das suas professoras lhe disse para deixar o sonho do teatro e seguir ópera?
A minha querida professora Paula Dória foi das primeiras pessoas a alertar-me para o canto. Foi ela que percebeu que eu poderia dedicar-me ao canto lírico pelas noções que já tinha na altura, de uma forma natural, a fazer os exercícios nas aulas de voz.
O seu verdadeiro talento foi descoberto durante o curso de Teatro. Li que foi um amigo [Rui Ribeiro] quem viu em si uma grande cantora e lhe pediu para fazer uma gravação para enviar para uma editora, mas que nem a gravou na totalidade porque tinha de ir apanhar um autocarro… Conte-nos como tudo começou.
Tudo aconteceu durante o curso de Teatro. A minha relação com o Rui começou pela amizade e só mais tarde, numa brincadeira entre amigos, é que ele percebeu que eu gostava de cantar e que poderia ser algo a considerar. Foi muito cauteloso com todo o processo e enviou a maquete que gravámos para a produtora com a qual trabalhava. Só depois de garantir que havia vontade de avançar por parte da produtora é que ele teve uma conversa séria comigo e me disse que eles estavam interessados em lançar um novo artista e que esse artista seria eu. A partir daí, dedicámo-nos a 100 por cento e as coisas foram começando a acontecer.
O que representa para si Rui Ribeiro? O que representa para si a amizade?
Os meus amigos são parte da minha família, são fundamentais na minha vida. Partilhamos os dois esta história bonita e, além da amizade que nos une, vou ser-lhe eternamente grata por me ter trazido para o caminho certo.
A segunda grande mudança da sua vida foi em 2010. Nesse ano, o seu primeiro disco, Okay Alright, esteve no primeiro lugar de vendas durante oito semanas e foi dupla platina. Lembra-se desse grande sucesso?
Quando o meu disco entrou para o primeiro lugar, estava fora de Portugal, a tomar um café sozinha e, naquele momento, começa a nevar. Levantei-me da minha cadeira e lembro-me de rodopiar no meio da rua, a sentir os flocos de neve a cair; estava genuinamente feliz!
Depois ganha um Globo de Ouro, dois prémios de Best Portuguese Act na MTV Europe, a música Dream a little dream of me é escolhida para um anúncio de publicidade, Scratch my back, outro sucesso, passa numa série no Brasil e é convidada para atuar no Rock in Rio Lisboa e Rock in Rio Brasil. Estava nas nuvens…
Eu e toda a equipa ficámos muito felizes com tudo o que nos foi acontecendo, sobretudo porque vivíamos tempos difíceis, era uma artista nova, as músicas eram em inglês e decidimos arriscar juntos. É claro que tudo o que fomos recebendo a seguir nos emocionou e motivou muitíssimo.
Fez um dueto virtual com Elvis a cantar Love me tender. Foi um momento especial?
Foi muito especial fazer este dueto. A nossa versão foi aprovada pela família do Elvis, a música é maravilhosa e é um artista que faz parte das vidas de todos nós. Foi uma honra.
Em Portugal, tem trabalhado com diversas vozes como António Zambujo, Carolina Deslandes, Diogo Piçarra e Marisa Liz, com quem formou o projeto Elas. É bom fazer estas parcerias?
A música só faz sentido se for partilhada. Cada um dos duetos que fiz foi muito especial e ficará guardado em mim para sempre.
Além de um reconhecimento da sua carreira, o que lhe trouxe de bom ser jurada no programa The Voice durante vários anos?
Foram oito temporadas de The Voice Portugal. Este programa foi acompanhando, a partir de determinada altura, a minha carreira. Cresci muito, aprendi muito pessoal e profissionalmente, fui muito feliz, conheci muita gente boa, vi e comprovei que o nosso país tem pessoas com muito, muito talento e só precisam da oportunidade certa para mostrarem todo o seu potencial. Aprendi que não há idade limite para os sonhos e assisti a histórias de vida incríveis.
Agora faz parte do programa A Máscara. O que representa para si este desafio?
A Máscara é todo um novo desafio e eu adoro desafios que me tragam para fora de pé; acredito profundamente que só assim conseguimos evoluir. Veio trazer alguma leveza à minha vida, é muito divertido gravar, os colegas são maravilhosos e receberam-me de braços abertos.
Afinal estudar Teatro não foi em vão e já participou como atriz numa curta-metragem e em duas novelas da SIC. Tem tido propostas para representar?
As propostas têm surgido e tem sido maravilhoso sair da minha zona de conforto sempre que consigo.
Também é compositora. Gosta deste lado criativo, de dar vida a novos temas, como o Why, com o qual participou no Festival da Canção?
Comecei há relativamente pouco tempo a compor sozinha. Ainda é tudo muito novo para mim, mas sinto que é um caminho a explorar, há muita coisa para expressar e muitas mensagens para passar a quem me acompanha.
Ainda se sente melhor a cantar em inglês do que em português? Foi uma decisão relacionada com uma preferência pessoal ou com base na internacionalização?
O inglês foi uma opção quase imediata, porque sempre me foi muito natural cantar em inglês e nós queríamos, sobretudo, fazer um trabalho com o qual eu me sentisse confortável, daí termos tomado essa decisão. Cantar em português era algo que sabíamos que iria eventualmente acontecer, mas a seu tempo.
Começou a cantar em casa, em menina, porque o seu pai tocava guitarra. Foi este o grande motivo para gostar de cantar?
Sempre se ouviu muita música em casa dos meus pais, crescemos rodeados de canto e de instrumentos, de serões em família, e, como muita gente sabia cantar ou tocar guitarra, é normal que isso me tenha influenciado profundamente.
Foi ao programa Alta Definição, da SIC, e vimo-la várias vezes chorar ao falar da família. Que laços são esses que a tornam uma mulher tão sensível quando fala dos seus?
Falar da minha família é falar de amor, é falar da nossa história. Só nós sabemos os contratempos, as lágrimas, as vitórias, os sorrisos que fomos partilhando, lado a lado. É normal que, tendo tudo isto muito fresco na minha memória, me comova quando falo deles; são tudo para mim!
De entre os grandes nomes da música internacional, com quem gostaria de cantar?
Há muitos artistas com os quais gostaria de colaborar, desde John Mayer e Ry X a Tiago Iorc, Billie Eilish ou Sam Smith. No fundo seria um sonho poder cantar com qualquer uma das minhas maiores influências musicais.
Lemos na página do seu site que “muito mudou na vida da Aurea, mas a Aurea, na verdade, não mudou”. Isto é mesmo verdade? As pessoas têm a ideia de que a vida dos famosos é um sonho, mas a sua essência não se deixou deslumbrar, é isso?
Sem dúvida. Houve muita coisa que se alterou na minha vida, mas a minha essência e os meus valores mantêm-se intactos até hoje. Cresci, tenho vivido muita coisa, conhecido muitas pessoas diferentes, mas continuo a olhar para tudo da mesma forma.
A F Luxury trabalha com o imaginário do luxo. O que é um verdadeiro luxo para si?
O verdadeiro luxo nos dias de hoje é o tempo, tempo para nós, para viver, para aproveitar com os que amamos e para conhecer o mundo.
Por: Alberto Miranda