O diretor artístico da Dior Men, Kim Jones, apresenta pela primeira vez nesta estação a coleção haute-couture masculina, enquanto entidade separada, paralela, mas entrelaçada, com o ready-to-wear. As coleções exploram, através da figura do bailarino Nureyev, a ideia de duas vidas vividas. Independentes uma da outra, apresentam ambas no seu cerne o rigor, a excelência, a facilidade e a disciplina.
“A relação entre a bailarina Margot Fonteyn e o monsieur Dior era algo em que pensava amiúde. A interpretação masculina da mesma implicava, também, pensar no seu mais famoso parceiro de dança: Rudolf Nureyev. O bailarino está ligado à minha história pessoal devido ao meu tio, o fotógrafo Colin Jones. Colin tinha sido bailarino, era amigo de Nureyev e fotografou-o em tempos. A coleção, ou melhor, as coleções, são sobre contrastes: os contrastes na maison Dior, entre ready-to-wear e haute-couture. É a diferença entre o palco e os bastidores; a vida teatral e a vida real de Nureyev. Aqui dá-se um encontro entre o estilo do bailarino e do arquivo Dior”, assim referiu Kim Jones.
A coleção é, segundo ainda o diretor criativo da Dior Men, “um encontro prático e poético, entre o utilitário e o sumptuoso, entre a realidade do ready-to-wear e a teatralidade da haute-couture”. É uma amálgama da vida metafórica de um bailarino, tanto pública como privada: a de Rudolf Nureyev.
O arquivo da Dior serviu, mais uma vez, como inspiração. A alfaiataria de Saint Laurent volta a ser revisitada para a construção de uma coleção que apenas diz respeito ao mundo masculino, com especial destaque para os volumes, aberturas, pregas e decotes contínuos, que a caracterizam. Por sua vez, o icónico bar jacket de monsieur Dior é transformado e adaptado.
O espírito das décadas de 60 e 70 está presente na simplicidade dos botões, a par das calças ligeiramente largas, conjugadas com fatos de tons neutros numa mistura de materiais nobres. Aqui entra em jogo o estilo único do bailarino, uma atitude evidenciada pelos macacões e calções de lã com fecho, pelas segundas-peles de malha com nervuras, pelo vestuário de exterior com inspiração em duffles, juntamente com couros requintados. Em contraste, as silhuetas de alta-costura encarnam a extravagância da sua presença em palco, a flamboyance, a insolência e a elegância de Nureyev, ao mesmo tempo ricas em reflexos, reflexo da sua paixão por têxteis antigos, dos quais era colecionador. Particularmente evidente nos quimonos, nos quais são integralmente usadas técnicas ancestrais virtuosas, realizadas manualmente por mestres artesãos no Japão.
O quimono prateado de inspiração uchikake, com a sua prestigiada tecelagem hikihaku, remete para o quimono que Nureyev possuía e usava. Para finalizar este símbolo excecional, foram necessários dez pessoas e três meses.
É igualmente nestas silhuetas haute-couture que os bordados dos arquivos alcançam o seu pleno significado, nomeadamente o vestido Debussy – uma criação espetacular idealizada em 1950 por monsieur Dior e usada por Margot Fonteyn – aqui reinventado numa versão masculina.
Os acessórios ecoam a simplicidade, a disciplina e a extravagância dos dois mundos, às vezes em simultâneo. Os sapatos evocam as sapatilhas de ballet e inspiram-se nas tradições masculinas do vestuário de noite. A rigorosa construção San Crispino do couro contrapõe-se a uma sapatilha Mary-Jane em seda e poliéster para homem. As carteiras funcionais, com curvas elegantes e fluidas, realçam os códigos da maison, como é o caso das bum bags e das carteiras para máquinas fotográficas em macronnage. Os magníficos chapéus de veludo, originalmente desenvolvidos por Stephen Jones em 1999 para a linha feminina Dior, foram reimaginados sob a forma de um turbante em jersey de seda torcido.
A coleção Dior Inverno 2024-2025 é revelada no centro de uma cenografia orquestrada por Baillie Walsh, ao som da música do compositor Max Richter, que revisitou – especialmente para este desfile Dior – a obra de Sergeï Prokofiev. A “Dança dos Cavaleiros”, do bailado “Romeu e Julieta”, interpretado por Rudolf e Margot em Londres no ano de 1965, é reinterpretada para esta ocasião.