Organizado pelo Museu Thyssen-Bornemisza, em Madrid, e com o patrocínio de Carolina Herrera, a grande mostra, comissariada por Rocío de la Villa, numa perspetiva feminista, reúne mais de uma centena de peças entre pinturas, esculturas, trabalhos em papel e têxteis, numa viagem através dos contributos artísticos das mulheres criadoras desde finais do século XVI até às primeiras décadas do século XX.
Artemisia Gentileschi, Angelica Kauffmann, Clara Peeters, Rosa Bonheur, Mary Cassatt, Berthe Morisot, María Blanchard, Natalia Goncharova, Sonia Delaunay e Maruja Mallo foram artistas célebres do seu tempo que hoje voltam a ser reconhecidas como mestres, em resposta ao esquecimento de que foram alvo na história da arte, juntamente com outras artistas menos conhecidas que assinaram obras de excelência inquestionável.
O reputado Museu Nacional Thyssen-Bornemisza apresenta Maestras, uma exposição comissariada por Rocío de la Villa, a partir de uma perspetiva feminista, com mais de uma centena de peças, entre pinturas, esculturas, trabalhos em papel e têxteis, num percurso pelas contribuições artísticas de importantes maestras criadoras desde o final do século XVI até às primeiras décadas do século XX, através de oito cenas relevantes no percurso das mulheres para a sua emancipação. Partindo da noção atual de irmandade, a exposição centra-se em grupos de artistas, mecenas e galeristas que partilharam valores e condições socioculturais e teóricas favoráveis, apesar do sistema patriarcal. A conjugação de períodos históricos, géneros artísticos e temas é o eixo principal em torno do qual se estrutura o projeto, mostrando como estas artistas abordaram questões importantes do seu tempo, tomaram posição e contribuíram com novas iconografias e visões alternativas. Maestras é a primeira grande exposição no âmbito do processo de redefinição do feminismo que o Museu Thyssen (Madrid) tem vindo a realizar nos últimos anos e conta com o apoio da Comunidade de Madrid e o patrocínio de Carolina Herrera. Após a sua apresentação na capital espanhola, será apresentada uma versão reduzida da exposição no Museu Arp Bahnhof Rolandseck, em Remagen (Alemanha).
Maestras representa as mulheres e os seus interesses. Artistas que foram académicas no seu tempo, procuradas por mecenas e colecionadores, participantes em associações femininas de mulheres artistas, galardoadas com as mais altas distinções e protagonistas de grandes exposições. Mulheres cultas, curiosas, viajantes, cosmopolitas, empenhadas… contando, por vezes, também, com o apoio dos seus professores, colegas, maridos, irmãos e comerciantes de arte. De entre os vários aspetos da sociedade, a exposição aborda a botânica, revelando a forma como aquelas mulheres eram conhecedoras das maravilhas da Natureza. A revolução científica foi o início do declínio da tradição dos conhecimentos botânicos, biológicos e médicos das mulheres, tendo como pano de fundo a perseguição às bruxas. Esta secção explora o papel das mulheres artistas no aparecimento e esplendor do género das naturezas-mortas e uma possível genealogia feminina do subgénero das naturezas-mortas, com insetos, fruto de uma conceção ecológica não mecanicista de artistas-cientistas como a alemã Maria Sibylla Merian. A sua obra é apresentada na sala ao lado da de outros pintores italianos e da Europa Central do século XVII, como Fede Galizia, Giovanna Garzoni e Clara Peeters, e de artistas francesas e britânicas, como Louise Moillon e Mary Beale. Um conjunto de pinturas que não só mostra o virtuosismo alcançado por estas pintoras, mas também a sua capacidade de observação e o seu conhecimento científico.
O tema da maternidade tem sido um dos mais representados na história da arte. No entanto, só no final do século XIX é que os artistas começaram a retratar os sentimentos das mulheres sobre a sua própria maternidade, em contraste com o discurso patriarcal do “anjo do lar”. Breakfast in Bed (1897), de Mary Cassatt, Ver Sacrum – autorretrato com o seu filho Peter (1901), de Elena Luksch-Makowsky, Maternidade, Meia-Figura (1906), de Paula Modersohn-Becker, Marie Coca e a sua filha Gilberte (1913), de Suzanne Valadon, e Maternidade (1932), de Tamara de Lempicka, são algumas das peças excecionais desta secção, que inclui também esculturas de Käthe Kollwitz e Emy Roeder.
Entre 1900 e 1937, quando o sufrágio feminino era alcançado na maioria dos países ocidentais, as mulheres artistas mais avançadas da época continuaram a abordar iconografias que sublinhavam a cumplicidade entre as mulheres e os seus contributos distintivos para as novas linguagens de vanguarda. Foram muitas as que participaram ativamente nos movimentos artísticos de vanguarda, artistas reconhecidas que triunfaram durante a sua vida e foram modelos de força, empenho, vitalidade, criatividade e independência, mas que, após a sua morte ou em consequência de acontecimentos históricos como a Segunda Guerra Mundial ou, no caso de Espanha, a ditadura de Franco, seriam eliminadas da História e dos museus. Camille Claudel, Jacqueline Marval, Helene Funke, Natalia Goncharova, Frida Kahlo, Ángeles Santos e Maruja Mallo são alguns dos grandes mestres cujas obras são expostas numa outra secção, a última da mostra, que aborda a emancipação. Há muito mais para ver, admirar e sobre o qual refletir no celebrado Thyssen-Bornemisza. Um fim de semana em Madrid, em homenagem à Arte e às Mulheres.
Patente até 4 de fevereiro de 2024.
Por: Isabel Figueiredo