Atualmente, todas as modalidades desportivas usam o biohacking para potenciar o desempenho dos atletas. Mas de que se trata realmente? Em termos gerais, trata-se de “mexer” com a biologia do nosso organismo para torná-lo mais produtivo e prolongar a longevidade das células. E se pensa que só está ao alcance dos atletas, engane-se. Alimentação, exercício físico, boa higiene de sono, fito nutrientes, mapeamento genético, banhos de gelo e suplementação de vitaminas e minerais são exemplos de biohacking. Para perceber melhor como funciona todo este processo, recorremos aos conselhos da especialista em Biomedicina, nutrição e naturopatia, Natalie Smyth, que nos explicou uma diferença essencial – idade biológica não é o mesmo que idade cronológica.
Numa altura em que, infelizmente, vemos muitas referências a mulheres de 50 anos como pertencentes à terceira idade, é de extrema importância perceber que a idade registada no cartão de cidadão, ou seja, a idade cronológica não é a mesma coisa que idade biológica. E a idade biológica é reversível. “A idade biológica é medida com base na função dos órgãos relativamente à idade cronológica. Ou seja, uma pessoa de 50 anos de idade pode ter uma idade biológica de 30, pois a saúde e função dos seus órgãos internos pode ser mais jovem que a sua idade cronológica. Ou o contrário. Uma pessoa de 30 anos de idade pode ter uma idade biológica de 50”, explica Natalie Smyth.
A boa notícia é que se pode reduzir a idade biológica, o que traz elevados benefícios tanto para a saúde como para a economia. Natalie cita um estudo inovador, onde se verificou como alterações ao nível da dieta e do estilo de vida podem não só reverter a idade biológica como potenciar a nossa esperança de vida. O investigador principal é Steve Horvath, Ph.D., Sc.D., da Universidade da Califórnia, e o estudo descobriu o chamado “relógio epigenético” que mede a idade dos tecidos humanos muito para além dos seus marcadores genéticos. Usando a epigenética, os cientistas descobriram que existem vários fatores do nosso estilo de vida que afetam a idade biológica. Para clarificar, o que é a epigenética? A epigenética é um campo de pesquisa que investiga como os estímulos ambientais podem ativar determinados genes e silenciar outros. Permite ainda entender como a experiência é capaz de operar transformações profundas no organismo. Natalie Smyth resume isto numa frase “genetics loads the gun, but the environment pulls the trigger.”
Segundo o estudo de Steve Horvath, os fatores que interferem com a nossa idade biológica são os seguintes: – qualidade de sono, exercício físico, nutrição, stress e trauma, saúde emocional, consumo de álcool, toxinas presentes no ambiente, fumar e relações românticas e sexuais. Deste modo, podemos ter uma alimentação extremamente saudável, mas, se os restantes fatores forem desequilibrados, não obtemos os resultados esperados.
Natalie Smyth refere que cada caso é um caso e é por isso que as usas consultas são de 90 minutos. É preciso perceber todo o historial de saúde do paciente e respetiva família, até à geração dos bisavós, quando possível, para encontrar a causa das queixas do paciente. Porque o ser humano não existe numa redoma, é sujeito a elementos externos que condicionam toda a sua saúde.
A receita de Natalie para uma redução da idade biológica assenta numa coordenação dos vários fatores.
Dieta Saudável
A expressão usada por Natalie é “comer um arco-íris”. Isto porque cada cor está associada a um benefício. Um bom exemplo são os alimentos de cor laranja que são altamente benéficos para a pele. Aliás, a pele é o maior órgão do nosso organismo e é o espelho do nosso sistema digestivo. Se existir algum problema a este nível, vai refletir-se na pele. Para a saúde da pele e prevenir o seu envelhecimento, Natalie aconselha a retirar-se da alimentação tudo o que seja açúcar e alimentos processados, pois estes causam inflamação do organismo e é a inflamação que deteriora as células. E consumir proteína, o nutriente por excelência para a saúde da pele. Mas o mais importante, segundo a especialista, é a diversidade de nutrientes, apostar em probióticos, produtos orgânicos, fito nutrientes e suplementação vitamínica como a vitamina K e D3 (que têm de ser consumidas em conjunto), peptídeos de colagénio ou super alimentos como spirulina.
Exercício físico
Praticar diariamente atividades desportivas de 30 minutos com uma intensidade de 60 a 80 por cento, descansando ao fim de semana. Um bom exemplo são os treinos de HIIT. O exercício físico é conhecido por melhorar a atividade fisiológica dos órgãos, o que reduz a idade biológica. Natalie refere que a melhor altura para fazer exercício é de manhã, quando o nosso organismo tem a maior concentração de cortisol. E se não queimarmos o cortisol, vamos retê-lo sobretudo na zona da barriga. Por isso a especialista recomenda também que se faça qualquer tipo de movimento a seguir a uma situação stressante, pois o cortisol é igualmente a hormona cujos valores têm picos em alturas de grande ansiedade.
Reduzir os níveis de stress
Investir numa prática diária, duas vezes ao dia, de pelo menos 20 minutos de relaxamento. Cada pessoa deve escolher a que fizer mais sentido para si. Pode ser desde ioga, a caminhar ou uma massagem. Foi recentemente demonstrado que, ao fim de 60 dias, este tipo de práticas aumentam o nível de resposta de relaxamento, permitindo reduzir significativamente a idade biológica.
Bem-estar emocional
Ter atenção à saúde emocional, procurando formas saudáveis de lidar com trauma e redução de stress.
Relações
Procurar manter ligações sociais que tenham impacto positivo na própria vida, sejam elas ligações amorosas ou de amizade.
Por fim, Natalie Smyth deu um excelente exemplo de como o nosso mindset é igualmente essencial no controlo da nossa biologia. A intenção que colocamos naquilo que comemos também interfere com o efeito que essa comida vai ter na nossa saúde. “Se comeres um hambúrguer e estiveres ansioso a pensar que estás a fazer asneira, o que achas que vai acontecer? Vais aumentar o nível de inflamação no organismo. Pelo contrário, se comeres um hambúrguer com todo o amor que aquela comida te traz, baixas o nível de inflamação. E se acrescentares ao hambúrguer um abacate ou vegetais, o nível de inflamação reduz ainda mais”. Mas isto não quer dizer que temos via verde para comer hambúrgueres com amor todos os dias.
Para informações mais pormenorizadas, consulte o site da especialista: https://www.nataliesmyth.co/
Por Ana Cristina Valente