Faz 53 anos a 31 de agosto, é rainha há 24 e este ano celebrou três décadas de casamento. Rania é muito mais do que a mulher de um rei árabe. Embora seja considerada uma das mais elegantes do mundo, ela é uma soberana empenhada nos direitos humanos e não tem pudores em escrever mensagens de amor para Abdullah II, nas redes sociais.
O amor não tem fronteiras! Rania nasceu no Kuwait em agosto de 1970 e, ao conhecer o príncipe Abdullah, viria a tornar-se, anos mais tarde, rainha da Jordânia. Desde que chegou à corte haxemita, mas sobretudo desde que o marido se tornou rei, Rania passou a figurar na lista das mulheres mais famosas do planeta, mas a sua vida não se resume a usar roupas de marcas internacionais e acessórios de luxo, acessíveis a muito poucos. Rania é uma mulher que se empenhou em ajudar o próximo, em usar a sua visibilidade para dar antes protagonismo aos problemas alheios. No entanto, sem nunca descurar este papel de apoio ao rei, Rania construiu uma família com quatro filhos…
Do Kuwait à Jordânia, onde encontrou o amor
Rania al-Yassin nasceu numa família palestiniana, oriunda da Cisjordânia, que se mudou para o Kuwait à procura de melhores condições de vida. É filha de Faisal, um médico, e de Ilham Yassin, que lhe deram, segundo consta, uma educação ao estilo ocidental, nunca perdendo a matriz árabe. Na hora de escolher os seus estudos superiores, em 1991, Rania optou por fazer a sua formação no estrangeiro, matriculando-se em Administração de Empresas na Universidade Americana do Cairo. Um ano antes, Saddam Hussein trocaria as voltas à família Yassin. Devido à invasão do Kuwait pelo Iraque, Rania e a família mudam-se para o reino da Jordânia. Foi aqui que começou por trabalhar num banco e, depois, na Apple. Corria o ano de 1993 quando Rania al-Yassin conheceu o príncipe Abdullah num jantar.
Mesmo princesa não estava destinada a reinar
Apesar de ser o filho mais velho do rei Hussein da Jordânia, Abdullah não era príncipe herdeiro e não estava destinado a reinar, porque o cargo pertencia ao tio, o príncipe Hassan. Mas isso é uma outra história à qual já lá vamos. Antes, porém, voltemos ao ano em que se conheceram e ao jantar onde Rania, uma gestora perita em tecnologias, e Abdullah se cruzaram… O destino estava traçado. Ela tinha 23 anos, ele, 31. Diz-se que ele ficou rendido à capacidade de comunicar da jovem e ao seu sentido de humor. Cinco meses depois casaram-se, no dia 10 de junho de 1993, fez agora 30 anos. Ao contrário do pai, que teve quatro mulheres, divorciando-se, sempre para se casar de novo, Abdullah só teve uma mulher.
Rania entra para a corte jordana ao dizer “sim” ao homem que tinha conhecido há pouco tempo. O casamento aconteceu no Palácio de Zein al-Sharaf, a rainha-mãe, em Amã, e foi uma autêntica festa popular. Mesmo não sendo uma princesa árabe, a sua formação académica mostra que é uma mulher preparada para entrar na corte e numa família real à frente do país há mais de 1400 anos. E, claro, que a sua beleza encantou o país… O enlace do filho do rei, descendente direto do profeta Maomé, lembrou a magia dos contos de As Mil e Uma Noites… Ele de farda militar e condecorações, ela com um vestido branco, com bordados a ouro, assinado por Bruce Oldfield (o mesmo que desenhou o vestido da coroação da rainha Camilla), com véu e com uma tiara de tecido.
Um ano depois nasce o primeiro filho do casal, o príncipe Hussein, hoje o herdeiro, mas que também não estava destinado a reinar. Em 1996, nasce a princesa Iman. A vida do casal decorria com tranquilidade até que Hussein, casado com a rainha Noor, adoece e, antes de morrer, decide alterar a lei de sucessão, retirando ao irmão o título de príncipe herdeiro e outorgando o posto ao filho mais velho. Mesmo perdendo o estatuto e deixando de ser o número um na linha de sucessão, Hassan aceitou a decisão do irmão à hora da morte e nunca se mostrou desagradado, sendo um dos homens de confiança do sobrinho.
No dia 9 de fevereiro de 1999, Abdullah ascendeu ao trono da Jordânia e fez o seu juramento como rei no parlamento. Um dos seus primeiros atos como novo soberano foi cumprir a última vontade do pai e nomear o irmão Hamzah, nascido do casamento com a rainha Noor, príncipe herdeiro, cargo que ostentou até 2004. A partir desse dia, Rania, com 28 anos, passou a ser a sua consorte, com o título de rainha da Jordânia e o tratamento de majestade. Desde 2009, o filho mais velho do casal passou a ser o número um na linha de sucessão.
O papel de mãe e a ausência do véu
É já depois de rainha, no ano de 2000, que Rania dá à luz a princesa Salma. O casal vai ainda receber a chegada de mais um filho, cinco anos depois, o príncipe Hashem, hoje com 18 anos, que teve um papel importante no casamento do seu irmão, o príncipe herdeiro, ao levar a noiva ao altar.
A par do trabalho no lar, do qual se encarrega ela própria, sobretudo da educação dos filhos, a rainha não quis ficar fechada no palácio e quis participar na vida ativa do reino, levando, muitas vezes, o nome da Jordânia para fora das fronteiras, o que tem ajudado a dar uma imagem do país como o mais ocidentalizado dos estados árabes. O facto de Bono, o vocalista dos U2, ser um dos amigos da rainha também ajuda a imagem de Rania a entrar pelo universo da cultura pop e mostrar que é possível a comunhão mesmo quando se é proveniente de universos tão distintos.
É certo que a sua imagem e a sua elegância são notícia, mas Rania não se limita a figurar nas listas das mulheres mais bem vestidas; ela foi considerada uma das 100 mulheres mais poderosas do mundo, pela revista Forbes. Tudo porque é uma voz influente e que ajuda a olhar para o papel da mulher jordana de uma outra forma. É que Rania veste-se, na maioria das vezes, de forma ocidental, não usa véu islâmico (a menos que entre numa mesquita ou seja recebida no Vaticano) e mostra o cabelo, o que não acontece com a sheika Mozah do Catar, com a rainha do Bahrein ou com as mulheres da família real do Brunei, por exemplo. “No Ocidente, as pessoas veem o véu como um símbolo de opressão. Não é verdade, sempre que a mulher o use por convicção e vontade própria”, afirmou. Mas Rania é muito mais do que as roupas de griffe que veste, embora, elas também assumam um grande significado.
As roupas e os acessórios internacionais da rainha passam a mensagem de que a Jordânia é um país aberto, profundamente arreigado às tradições, sim, mas tolerante. Rania sabe que a sua imagem é simbólica nesse aspeto, mas a sua importância como mulher do rei vai além do seu aspeto físico e das mensagens da sua indumentária.
O trabalho de ocidentalização da Jordânia também se deve ao reinado de Abdullah, um apologista da paz, o que permitiu ao país uma economia mais estável e um aumento do investimento estrangeiro. Graças a esta posição e ao facto de não haver guerra dentro das suas fronteiras e também à imagem que a rainha veicula, a Jordânia é, cada vez mais, considerada um destino turístico, pleno de exotismo.
Ativista premiada em Portugal
As grandes causas da rainha estão relacionadas com a pobreza das mulheres e das crianças, cujo trabalho desenvolve através da Unicef e da Fundação Rio Jordão, uma organização sem fins lucrativos. Rania trabalha também em áreas tão fundamentais como a educação, a saúde, a economia, mas não só. Os refugiados são uma das suas grandes preocupações e promove, igualmente, o diálogo intercultural, num mundo cada vez mais cosmopolita, mas paradoxalmente com vários exemplos de extremismo e de fanatismo. Estas causas têm granjeado à mulher do rei uma grande popularidade, muito maior do que as críticas pelos gastos em roupa ou as alegadas cirurgias estéticas.
Graças ao seu trabalho humanitário, em 2009, Rania visita Lisboa para receber o Prémio Norte-Sul do Conselho da Europa, numa sessão solene que decorreu na Assembleia da República, onde foi destacado o papel solidário que visa “uma maior compreensão e tolerância em todo o mundo”. A título de curiosidade, entre as várias condecorações estrangeiras que detém, a rainha jordana recebeu de Portugal a grã-cruz da Ordem do Infante D. Henrique e a grã-cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada.
Rainha e escritora
Quando se completou um ano da morte do rei Hussein, Rania publicou o seu primeiro livro, O Presente do Rei, que é uma homenagem ao sogro. Trata-se de uma obra infantil, cujas receitas reverteram para as crianças carenciadas do país. Em 2008, para assinalar o Dia da Mãe, Rania escreve Beleza Eterna. Um ano depois, publica Maha das Montanhas, que fala sobre a importância da educação. Em 2010, sai A Troca da Sanduíche, inspirado na infância de Rania, com o pretexto de falar sobre as diferenças. Foi um bestseller.
Não é a única rainha da Jordânia
Neste momento há duas rainhas na Jordânia, mas é preciso explicar que Rania é a consorte, isto é, a mulher do rei, e a outra, Noor, é a madrasta de Abdullah II. Apesar do título, elas têm designações oficiais diferentes: Sua Majestade a rainha Noor da Jordânia e Sua Majestade a rainha da Jordânia (para Rania), ou seja, a mãe do atual rei, a princesa Muna, tem um título inferior à madrasta. Ultimamente, Noor não tem sido vista na corte e desconhece-se como estão as relações entre os reis e a rainha-viúva, mas Rania mostra ter uma relação de grande cumplicidade com a sogra.
Rainha das redes
O facto de ser mulher de um rei não impede Rania de ser uma utilizadora ativa das redes sociais, o que não acontece, por exemplo, com nenhuma rainha europeia. Rania foi mesmo a primeira rainha de sempre a ter uma conta no Twitter. Várias vezes, a monarca haxemita usa o Instagram para mostrar o seu trabalho em prol dos mais necessitados, mas o que mais surpreende o mundo é o uso que lhe dá para fazer confissões íntimas sobre o marido e os filhos, recorrendo até à linguagem dos emojis (sinal dos tempos), como corações, para legendar fotografias e mostrar o seu orgulho na família.
Em junho deste ano, quando assinalou os 30 anos de casamento, Rania afirmou: “Cada dia que passa aproximamo-nos mais e cada ano que passa vejo a sorte que tenho de passar a minha vida contigo”. Numa outra legenda, em janeiro de 2023, a rainha declara: “Não há maior bênção do que percorrer a minha jornada de vida a teu lado. Sinto gratidão por te ter todos os dias”. As manifestações públicas de amor são várias como esta: “A minha alegria é estar contigo. Adoro a minha vida contigo” ou “O meu coração tem um rei”. Rania é uma rainha que não tem medo de expor os seus sentimentos…
Por Alberto Miranda