Num mundo onde o ser masculino quase sempre se impôs, uma poderosa luz brilhou em Paris, na Avenue Montaigne, em julho de 2016, rompendo com estereótipos que limitavam as mulheres como diretoras criativas nas maiores casas de moda da cidade. Essa luz foi Maria Grazia Chiuri, uma estilista italiana que desafiou os paradigmas da indústria ao tornar-se a primeira mulher a liderar a Christian Dior nos seus respeitáveis 70 anos de história.
Para a maison Dior, Maria Grazia Chiuri desenvolveu uma mistura de elementos clássicos que combinam na perfeição com o contemporâneo, criando coleções sofisticadas repletas de metáforas. Uma das suas características mais distintas foi a inclusão de mensagens feministas nas suas criações de haute couture e de prêt-à-porter, que revelam o poder e a força da mulher, dando voz às questões de igualdade de género e emancipação feminina sem nunca se desviar das suas convicções e valores, mantendo-se defensora de causas sociais e ambientais. Tudo isto tem estado presente desde a sua primeira coleção até agora. É também notório que a beleza da silhueta feminina voltou a brilhar no cimo de um salto alto, mas agora para que a mulher sorria para si e se sinta única.
A coleção de prêt-à-porter para este outono que se aproxima celebrou a perfeita relação entre a Dior e a Índia. Num evento sem precedentes, sob o icónico Portal da Índia em Mumbai, com vista para o mar Árabe, Maria Grazia Chiuri enalteceu a beleza deste país divulgando pormenores repletos de glamour. Foi uma viagem imersiva que permitiu a quase todo o planeta admirar a habilidade e a genialidade que sempre encantaram o mundo da moda, mas nem sempre receberam o devido reconhecimento. No total, foram apresentados 99 looks deslumbrantes, desfilando numa passarela emoldurada por magníficos arranjos florais rodeados de velas. Ao som inspirador da música tradicional ao vivo, as modelos entraram através da imponente arcada ricamente bordada à mão por alunas da Escola Chanakya – um atelier para raparigas que Chiuri ajudou a instituir.
Todas a peças impressionaram pelas cores vibrantes e bordados complexos, criando uma experiência única à medida que passavam. As silhuetas mais clássicas da maison Dior foram também reinventadas com microbordados e tons impactantes, evidenciando o trabalho minucioso por trás de cada uma das peças. As referências culturais da Índia foram cuidadosamente incorporadas pela criativa, de quase 70 anos, que enalteceu tigres, pavões e flores. Detalhes preciosos foram orgulhosamente exibidos, valorizando a mestria artesanal que sempre foi o coração da Dior. Nesta coleção, Maria Grazia Chiuri revelou uma série de looks fascinantes que exaltam as vivências e o que há de melhor neste místico e maravilhoso destino. Numa paleta de cores vibrantes, as silhuetas com motivos hipnóticos combinaram o charme cintilante do estilo indiano com a essência da costura parisiense. O resultado foi uma celebração dos poderosos laços entre a Dior e a Índia.
Para a coleção de haute couture, Maria Grazia Chiuri procurou inspiração no trabalho da artista plástica Marta Roberti e transformou a passarela numa galeria de arte, inspirada na clássica Roma de outros tempos. As cores passearam pelos brancos, beges, prata e nudes, e as silhuetas verticais combinaram com sapatos quase rasos. Os casacos estruturados com dobras abaixo do peito evocavam estátuas clássicas de antigas deusas. As pérolas que evocam a pureza renasceram ao lado de texturas esvoaçantes e cintilantes dando mais beleza às saias e vestidos longos. Nas capas quase se sentia o silêncio do sagrado. A abundância farta e pesada da alta-costura deu lugar à leveza e só com um olhar muito atento se descobriam intricados bordados de fios metálicos que adicionaram textura aos tecidos jacquard.
Para 2024, que já está muito perto, Maria Grazia Chiuri foi ao México e, no antigo Colégio de San Ildefonso, um lugar cheio de simbolismo, onde estudou Frida Kahlo e onde conheceu o também artista plástico Diego Rivera, mostrou a Cruise uma coleção inspirada na artista imortal. O resultado foi um conjunto de peças despretensiosas, mas onde leveza e sentimento comunicavam com um sentido de personalidade forte.
As camisas de algodão foram presas singelamente dentro das saias plissadas ou rendadas, ou caíam soltas sobre as calças largas e, por vezes, havia coletes ou ponchos bordados. A borboleta foi também um símbolo muito presente em várias peças, surgindo de formas variadas, como num imponente colar, sobre uma camisa monocromática ou até mesmo em enormes estampagens a que se juntaram elementos da fauna e flora mexicana. Esta mistura de informações naturais e culturais deu à coleção um toque singular. Maria Grazia Chiuri também apresentou contornos que captam a essência da feminilidade de forma única, fugindo dos lugares tradicionais do feminino. A estilista mostrou uma série de fatos de três peças cortados com precisão, disponíveis nas versões preto ou branco. Estas peças ímpares foram uma homenagem a Frida Kahlo, que as usava desde os 19 anos, desafiando as normas de feminilidade e reivindicando, acima de tudo, a sua independência intelectual. As peças transmitem a mesma audácia e ousadia que marcaram a vida e o estilo da artista. Toda a coleção transmite uma mensagem de emancipação e coragem, convidando as mulheres a libertarem-se das restrições impostas pela sociedade e a abraçarem a sua verdadeira essência.
Não sabemos ao certo quanto tempo vamos esperar para ter em Portugal as coleções desta estilista genial, mas podemos afirmar que o lado feminino da Dior, sob a liderança de Maria Grazia Chiuri, tornou-se um farol de emancipação feminina na indústria da moda. Desde que tomou a liderança criativa da maison, inspira gerações futuras a romperem barreiras e abrirem caminho para um mundo mais inclusivo e igualitário. O seu legado será uma ode à força e à beleza das mulheres, e a sua revolução na Dior é uma anotação poderosa a lembrar que a moda tem o poder de transformar vidas e moldar uma nova narrativa para o futuro.