Com pouco mais de 25 anos de carreira, Rebecca Leon foi impulsionada pelos pais, embora sem qualquer imposição, a ter como principal trabalho a arquitetura e o design de interiores. Com uma paleta de cores muito subtil e muito própria, vai criando espaços para quem procura tranquilidade para viver ou passar férias. Antes, pensava ser cenógrafa, mas foi a projetar e a decorar montras que percebeu que o equilíbrio das peças e das cores seria o seu objetivo de vida.
Vinte e cinco anos depois, como caracteriza o seu trabalho?
Com o crescimento do atelier, fez-nos sentido passar a desenvolver projetos de raiz, isto é, arquitetura, design de interiores e decoração, para que o cliente final encontrasse no mesmo atelier o pacote completo. Nesse sentido, acabámos por nos direcionar mais para a arquitetura e arquitetura de interiores, mantendo obviamente o design de interiores e decoração, que acaba por ser um complemento natural para a concretização de um espaço. A nossa equipa é composta por arquitetos e designers de interiores precisamente para dar resposta a todo o tipo de projetos, sejam eles de raiz ou apenas decoração.
Fez muitos trabalhos com os seus pais?
Sim, fizemos muitos projetos juntos. Tínhamos uma parceria que funcionava bastante bem apesar da diferença de idades. O meu pai, Francis Leon, era arquiteto, a minha mãe, Gabriela Leon, designer de interiores, muito arrojada para a época, e eu desde muito cedo, ainda miúda, acompanhava-os nas obras que projetavam. No entanto, quando fiz 20 anos, quis seguir um caminho paralelo, sempre relacionado com as artes, mas direcionado para a moda. O objetivo não era tornar-me designer de moda, mas sim criar cenários para produções de moda e passagens de modelos.
Estava fazer a algum curso nessa época?
Sim, tirei vários cursos, Vitrinismo, Design de Interiores, Design Gráfico, Audiovisuais, mas, quando acabei o curso de Vitrinismo, fui convidada pelo Frederico Abecassis, o master franchiser da marca KA International em Portugal, para ficar à frente do departamento de imagem da marca. Eram cerca de dezasseis lojas de norte a sul do país e ilhas, e a minha função era não só coordenar todo o departamento de imagem e decoração das lojas, como desenvolver os projetos de novas lojas, montras e mobiliário.
Mais tarde começa a trabalhar com os seus pais?
Fez-me sentido fazer parte da história dos meus pais e construir algo nosso, uma espécie de family business, o meu pai na área da arquitetura, a minha mãe e eu no design de interiores e decoração. Este modelo de negócio funcionou durante muitos anos. Desenvolvemos diversas tipologias de projetos, desde casas particulares a restaurantes, espaços comerciais e hotéis, entre eles os restaurantes Porto de Santa Maria e Faroleiro no Guincho, a Pastelaria Garrett, no Estoril, e a Loja das Meias e a Farmácia de Birre, em Cascais.
A determinado momento, resolve voar sozinha.
Sim, em 2007, segui uma rota nova e independente ao inaugurar o atelier Rebecca Leon Interiors, mas sempre mantendo a nossa parceria ativa e a sociedade que tenho até hoje com a minha mãe. Tínhamos alguns projetos em curso, que tinham de continuar, e o objetivo, ao criar a minha identidade, nunca foi abdicar do que já havíamos construído. Percebi que continuar ambos os negócios em paralelo seria uma mais-valia.
Como era a interação com o seu pai?
Foi sem dúvida o melhor professor de arquitetura que poderia ter tido, de tal ordem que nem o curso tirei. Apesar de não ser arquiteta “de papel passado”, graças a ele e à grande escola que tive sempre que o acompanhava, hoje sei o que cada construção ou remodelação precisa. Fizemos juntos a minha casa, foi o meu maior desafio. Tinha como objetivo construir uma casa projetada por ele e consegui.
Como podemos definir o estilo Rebecca Leon?
Creio que o meu estilo é definido pela abordagem contemporânea do traço aliada aos materiais implementados em cada projeto. Os barramentos e texturas com materiais orgânicos, uma paleta de cores neutra e monocromática, com madeiras e pedras naturais em contraste revelam muito da minha identidade. A luz natural, baixa e intimista, e sempre que possível a ligação entre o exterior e o interior. Cores garridas e grandes contrastes não fazem parte da nossa imagem de marca. Em termos de traço, este é contemporâneo, no entanto, se o projeto for uma reabilitação na Baixa Pombalina, onde, por sinal, temos muito trabalho realizado, aproveitamos ao máximo a traça do edifício. Os edifícios têm a sua alma e a sua história, e isso deve ser preservado.
Quais os trabalhos mais relevantes que pode mencionar?
Além da parceria de há muitos anos com o Grupo André Jordan, o Grupo Prime Lisbon, a Marquês Valley e a Wanted Real Estate, estamos no momento com vários tipos de projetos particulares e não só, o que para nós é um desafio. Temos uma guest house em São Luís que está em fase de obra, um hotel rural na zona de Santiago do Cacém, dois montes na zona do Cercal, uma reabilitação de um prédio emblemático na Calçada da Estrela em Lisboa, uma townhouse no Porto, moradias particulares entre outros. Estamos também a estudar a possibilidade de uma loja online com mobiliário desenhado pelo atelier e outras peças importadas. Penso que é importante, pois permite chegar a um maior número de pessoas/clientes. Quem gosta do nosso design e das nossas peças pode chegar até elas através da loja sem ter necessariamente de encomendar um projeto; acaba por ser um complemento ao nosso negócio.
De onde vem a sua inspiração?
A inspiração está em todo o lado. É só abrir os olhos. Pode estar numa viagem, num filme, em lugares, pessoas, livros… até de uma passagem de modelos pode sair a nova paleta de cores para um futuro projeto.