
Com formação em Engenharia Física e grande parte do percurso profissional no setor médico, Brites Matos decidiu mudar de vida. Impulsionada pela destreza, empreendedorismo e obstinação, deu início a uma empresa de importação de bens alimentares segmentados e qualidade premium. Uma década e meia depois, além da cerveja, sumos e águas inicialmente disponibilizados, a Bricer oferece mais de 2500 referências, onde cabem centenas de produtos internacionais de marcas de renome além-fronteiras.
Antes de ter uma empresa de bens alimentares, o que fazia em concreto?
Depois da formação em Engenharia Física, fiz várias especializações na área da física médica, e mais tarde comecei a fazer MBA de Gestão de Empresas. O início da minha atividade profissional foi no setor hospitalar e também dava aulas no ensino superior politécnico privado. Era muito nova e até houve hipótese de seguir uma carreira académica, mas não me senti seduzida. Sou uma pessoa de contacto pessoal e, na área académica, faz -se mais trabalho de gabinete e é solitário. Então comecei a procurar alternativas no âmbito comercial e acabei por ingressar na Agfa HealthCare, multinacional de equipamento médico. Estive por lá mais de uma década; deu-me grande aprendizagem, não só na relação com os clientes mas também na negociação, e vendas. Porém, cheguei a uma fase da minha vida onde senti que precisava de novos desafios; foi quando decidi abrir a Bricer.
Quando fez a viragem no percurso profissional, estávamos em que época?
Estávamos em 2008, numa época de crise profunda, mas isso não me colocou qualquer impedimento. Queria ter desafios diferentes e, como tinha experiência em vendas e negociação, além de gostar do contacto com pessoas, sabia que esta viragem teria de ser algo no setor comercial. A área alimentar surgiu de forma natural e comecei a procurar produtos. Mas não queria ser mais uma no mercado; teria de encontrar algo diferenciador e direcionado ao segmento premium, onde, por norma, não se sente a crise.
Foi uma aventura, numa época de incertezas.
Sem dúvida, passei de películas radiográficas para cervejas, águas e sumos. De facto, era vender, embora um produto diferente. Foi uma pequena grande mudança que não me assustou de todo. Nas crises económicas, temos de ver onde estão as oportunidades. Para fazer nascer a minha oportunidade, neste caso a Bricer, fiz muitas pesquisas para encontrar produtos diferenciadores. E, como o caminho se faz andando, não tinha um plano de negócios elaborado. Também devido às incertezas da época, não se conseguia fazer grandes previsões. Mesmo assim, elaborei um business plan básico, a operacionalização foi na base do “vamos prà frente” e avancei, quase de uma forma empírica. A vontade de arriscar está sempre presente e também nos distingue.
O que quer dizer com “vamos prà frente”?
“Vamos prà frente” é isso mesmo, avançar, independentemente daquilo que nos diz ou não uma folha Excel. Sou muito de estar no terreno e, como a minha base de formação não é finanças nem economia, mas engenharia, sou formatada para resolver problemas. Era aquilo que fazia com os desafios que surgiam, muitos derivados da atividade como empresária e também na sequência da minha inexperiência no setor alimentar. A Bricer é hoje uma referência no segmento dos produtos alimentares diferenciados e inovadores e só aconteceu porque sempre andei para a frente, sem medo. Claro que ressalvo sempre que somos resultado das pessoas que se cruzam no nosso caminho e também tive sorte em encontrar pessoas excelentes. Parceiros, colaboradores e clientes sempre me ajudaram nesta aprendizagem e amadurecimento neste sector.
Quais foram as suas primeiras importações?
Foi uma cerveja belga semiartesanal. Depois começámos a introduzir outros produtos e marcas. Temos vários produtos estrela hoje em dia que vêm desde o início da Bricer, como a água Solan de Cabras, que agora já se encontra nas grandes superfícies. Hoje em dia, temos outros no nosso top 20 de vendas, tais como produtos para celíacos e também biológicos e as compotas e doces Mrs Bridges, que são ímpares no mercado, tal como os premiados vinagres de Modena. Temos de tudo um pouco no segmento das mercearias secas, chás, biscoitos e muitos outros produtos premium.
Como podemos distinguir um produto pela qualidade?
Vamos a um exemplo: muitas vezes provamos um produto muito saboroso e, se virmos o rótulo, não tem qualidade nenhuma. Um produto de qualidade assenta numa matéria-prima peculiar e muito controlada. Processos de fabrico diferenciados, sem massificação, resultam em qualidade no produto. Quanto menor a informação no rótulo, maior é a qualidade; quanto menos aditivos esse produto tiver, maior é a sua qualidade.
Teve algum produto que não foi sucesso?
Tantos, isto não é só ganhar. Há uma característica minha muito forte: não tenho medo de arriscar e sempre aprendi com os erros. Penso que o mais importante é termos a capacidade de nos reinventarmos, de seguir em frente e continuar sem nunca desistir do propósito inicial. É o que tenho sempre feito e seguido com a Bricer.
Em termos de futuro, vai ter outras marcas e/ou outros produtos?
Sim, a estratégia da Bricer, a médio e longo prazo, passa por aumentar o portefólio. E iremos avançar para outros mercados e também desenvolver atividade com várias insígnias paralelas à atividade principal, algo que já estamos a desenvolver muito ativamente este ano.
Qual a importância que o F Club tem tido para si?
O F Club, para mim, não é só um clube de networking, embora seja essa a sua essência. Acho muito interessante o seu formato; é extremamente saudável, além da enorme energia e apoio que nos dá a mentora Fátima Magalhães. Temos os eventos, que são extraordinários, muito alegres e muito substanciais, porque existe sempre partilha de histórias de superação e de sucesso, o que nos dá motivação extra para seguir em frente.