Desde 2009 que Lourenço Ortigão vive muitas vidas e veste a pele de muitos personagens. Ao longo dos anos desempenhou papéis distintos, deixando para trás a jovem promessa nacional para se elevar ao patamar dos grandes atores. Em paralelo desenvolveu a antiga paixão pela cozinha e abriu um restaurante e uma fábrica de gelados artesanais. Quase a ser pai, enfrenta com serenidade este novo capítulo na sua história de vida e deixa em exclusivo à F Luxury uma entrevista intimista preenchida de boa-disposição
Tem vestido muitos personagens. Como se despede deles para começar outros?
O meu trabalho é fazer personagens; para me despedir deles, se tiver possibilidade, faço uma viagem ou algo que me permita limpar a cabeça e o estado de espírito. Se não houver essa possibilidade, às vezes mudo de imagem e tento viver outras situações que me ajudem a virar a página. O mais difícil é quando tenho dois projetos ao mesmo tempo, dois personagens que estão intercalados, e aí é mais complicado.
Como se prepara para representar um personagem?
Estudo ao máximo tudo aquilo que o personagem representa, a sua história, os seus sentimentos, o que gosta ou não e depois aplico a técnica de Marlon Brando. Isto, de certa forma, é o alinhamento dos chacras, que aprendi no Stella Adler, uma academia para atores, nos Estados Unidos, onde se aprendem várias técnicas de representação.
As telenovelas têm sido o seu território, mas, quando há trabalhos diferentes deste registo, há outros desafios?
Sim, mas os trabalhos que têm registos diferentes são os que mais gozo me dão, são desafiantes e por norma há personagens que fogem do meu registo habitual, mas que têm de ser construídos de raiz, são os que mais gosto de representar. Os papéis que mais me fizeram crescer, como ator, foram aqueles que tiveram personagens distintos daquilo que sou. As telenovelas foram uma opção para o meu percurso profissional e também as oportunidades que me deram, mas nunca digo não a papéis diferentes, seja no teatro ou cinema. Nestes trabalhos, o maior desafio é mesmo pensar pela cabeça do personagem, que em nada se parece comigo.
Muitos atores têm tido sucesso no estrangeiro. Gostava de desenvolver a sua internacionalização?
Nunca neguei que gostava de fazer trabalhos noutros países e sempre abri portas a participar em projetos estrangeiros. Mas também nunca neguei que sou muito feliz em Portugal e tenho muito orgulho no meu percurso como ator.
Mas a sua vida não é só representar; é também a restauração. Isto era um sonho ou foi um acaso?
Sempre tive muito gosto pela cozinha, é uma grande paixão. Sou autodidata, aprendi, por mim, desde muito novo, e o Villa Saboia era um sonho, sempre quis ter o meu restaurante. É algo que consigo conciliar com a minha profissão, porque a carreira enquanto ator têm muita discrepância de ritmo, tanto se trabalha a duzentos por cento, como há paragens, e o facto de ter outros negócios faz com que mantenha maior estabilidade na minha vida e posso focar-me noutras situações que não seja só o trabalho como ator. Acima de tudo, mais do que um negócio que me dá dinheiro, é uma aprendizagem que vou desenvolvendo ao mesmo tempo que tenho o restaurante; já passaram seis anos e está para continuar.
Como é o Lourenço quando toma o comando da cozinha e o que mais gosta de fazer?
Adoro cozinhar. Quando preparo algum prato, gosto de me concentrar, de estar sozinho, de beber um copo de vinho, até posso ter alguém à conversa, mas gosto pouco que interfiram. As pessoas opinam muito quando estamos a cozinhar, e eu gosto pouco que interfiram, a não ser que peça ajuda. Antes era conhecido por fazer excelentes risotos, hoje em dia faço quase tudo menos sobremesas, não são muito a minha praia.
O seu projeto mais recente é uma fábrica de gelados. Existe alguma razão especial, acredita que é uma boa aposta?
É verdade, tenho uma fábrica de gelados e sobremesas; é um modelo de negócio um bocadinho diferente do habitual, trabalhamos o canal Horeca, b2b, ou seja, vendemos para restauração e hotelaria, não vendemos diretamente ao consumidor final a não ser através do Villa Saboia. E sempre me encantou, este segmento. Também havia no restaurante uma conhecida marca de gelados, mas sentíamos que não estava muito ao nível daquilo que queremos dar aos clientes e surgiu a oportunidade de comprar uma empresa de gelados artesanais. Este negócio já tem quatro anos, creio que já fornecemos quarenta restaurantes, todos eles maravilhados com a qualidade, e a ideia é continuar a crescer gradualmente. Aproveito para dizer que, se precisarem, nos vossos restaurantes de gelados ou sobremesas, nós produzimos. Lá estou eu com a veia de negócio ativa. (risos)
Vai em breve ser pai. Como está a viver este momento?
Com muita felicidade e muita serenidade ao mesmo tempo. É algo que queria há muito. Mas, acima de tudo, tanto eu como a Kelly, o que queremos é que venha uma criança saudável e quando chegar pensamos no resto. Não nos preocupamos se é rapaz ou rapariga; queremos apenas que venha saudável. Estamos muito felizes.
Em termos de projetos futuros, o que podemos esperar de si?
Não sabemos muito bem ainda o que vai acontecer, mas também não estou muito preocupado. Eu e a Kelly estamos a viver a gravidez a cem por cento, por isso, a minha cabeça está dentro de casa, mas, se surgir um projeto interessante, vou abraçá-lo. Acabei agora a participação na minissérie da Opto Lúcia, a Guardiã do Segredo.
A F Luxury está de aniversário. Gostaria de deixar algumas palavras de parabéns?
Claro que sim, muitos parabéns por esta data especial. É um prazer enorme poder fazer esta capa, que já estávamos a programar há uns anos; finalmente surgiu a oportunidade. Espero que gostem do resultado final, que continuem a comprar a F Luxury e que perdure por muitos e muitos anos. E muitos parabéns à Fátima Magalhães e a toda a equipa.