Grandes, pequenas ou micro, as malas de mão são essenciais todos os dias. Mas há algumas especiais que são ícones de luxo e mundialmente conhecidas. As bolsas, como são muitas vezes batizadas, já eram comuns na Idade Média. Feitas de pano, eram usadas pelas classes abastadas e guardavam objetos para rezar, maquilhagem, lenços de seda e dinheiro. Porém a mala de mão nasceu do réticule, pequeno saco de tecido, feito à mão, que era transportado pelas mulheres em correntes ou cordas. Ao longo dos anos, foram muitas as marcas que fizeram história com malas de mão que ainda hoje são usadas no seu formato original.
2.55, de Gabrielle Chanel
O ponto de partida é dado por Gabrielle Chanel, criadora da famosa 2.55. O mundo estava em 1920, e Coco Chanel, sempre inquieta, não gostava de transportar a mala nas mãos, precisava delas para o seu trabalho, por isso pousava-a e nunca conseguia encontrá-la. Decidiu então desenhar um modelo prático, inspirado nas sacolas dos carteiros, com uma corrente, mas não ficou convencida. Voltou aos desenhos iniciais, tornou a mala mais confortável e resolveu lançá-la em 1929. Mas ainda não era o desejado e, em fevereiro de 1955, o mundo conhece a 2.55; a referência de batismo está na data. Foi a primeira mala de mão com possibilidade de ser usada ao ombro. A peça foi amor à primeira vista para a maioria das mulheres que logo correram para a comprar. Há referências de que havia dentro um compartimento secreto usado para algumas intimidades. A alça tinha por base os chaveiros usados pelos contínuos do orfanato da antiga abadia cisterciense de Aubazine, em Corrèze, França, onde Gabrielle passou a infância e parte da adolescência. O interior era forrado em tom de vinho, também inspirado nos uniformes deste colégio interno, e o padrão acolchoado poderá ter sido uma referência aos vitrais da abadia. O couro matelassé (acolchoado) poderá ter sido uma homenagem aos homens que trabalhavam nos estábulos. Cada 2.55 é trabalhada por seis a quinze artesãos e demora cerca de dezoito horas a ser confecionada. Em 2005, Karl Lagerfeld recriou a mala fazendo nascer a versão Reissue. A Maison Chanel continua a produzir estas malas de mão em França e nuca cedeu à tentação de migrar para a Ásia, onde os custos de produção são menores.
Birkin, de Hermès
Criada nos anos oitenta, do século XX, foi buscar inspiração à cantora, atriz, escritora e também modelo Jane Birkin, nascida em Inglaterra, que foi e continua a ser motivo de inspiração para muitas mulheres. Mais tarde dedicou-se a causas sociais e ainda vive em Paris, onde passou a maior parte da vida. Em conjunto com Serge Gainsbourg canta a intemporal música Je T’aime… Moi Non Plus. Mas, voltando a esta mala da Hermès, sabemos que Jane Birkin usava sempre uma cesta de mão feita em vime, o que lhe dava imenso glamour, mas não era nada prática para viajar de avião, não cabia no compartimento das bagagens de mão. Numa dessas viagens a cesta entornou-se e o conteúdo espalhou-se. Um simpático cavalheiro, Jean-Louis Dumas, ajudou-a enquanto escutava as suas queixas, adorava a cesta, mas não era ideal. Este simpático senhor era o dono da Hermès e, atento a tudo o que ouvia, foi pensando num desenho enquanto Jane descrevia como seria a mala ideal. Em 1984, a Maison Hermès lança o seu maior bestseller e uma das peças mais desejadas, a mala Birkin. Quem queria obtê-la teve de ficar em lista de espera que poderia demorar até três anos. Isto porque do corte da matéria-prima à conclusão a mala demora entre quinze e vinte horas a ficar pronta. Em 2015, Jane Birkin pediu que o seu nome fosse retirado da mala feita de pele, mas acabou por aceitar as explicações da Maison no que diz respeito às normas sustentáveis na criação de crocodilos e avestruzes, e os compromissos com a marca foram renovados.
Speedy, de Louis Vuitton
Quando o assunto é moda e luxo, a Louis Vuitton está no topo da lista. Mas, muitos anos antes, em 1837, o jovem de 16 anos Louis Vuitton chegou a Paris a pé vindo de Anchay, perto da aldeia Lavans-sur-Valouse, num percurso de cerca de quinhentos quilómetros. Depois de aprender as técnicas com Monsieur Maréchal, funda a sua oficina em 1854, onde produzia de forma artesanal malas de viagem e bolsas, criando ao mesmo tempo um padrão único diferente do que havia na época. Em 1896, criou o monograma das letras L e V, em conjunto com símbolos que lembravam flores. Muito tempo depois, em 1933, a lendária atriz Audrey Hepburn, cliente da Maison e da mala batizada de Express, falou com Henri Louis Vuitton dizendo que precisava de algo mais versátil e menor para o dia a dia. O seu pedido foi atendido e, em 1965, o mundo conhece a Speedy. Esta icónica mala de mão da Louis Vuitton acabou por ser também inspirada nas malas dos médicos da época e pode ser encontrada em quatro tamanhos. Muito prática, usa um fecho de correr e foi criada para andar na mão. A partir daqui, o modelo com o monograma Louis Vuitton tornou-se o mais conhecido de todos. Para não perder atualidade e continuar a ser objeto de desejo, a Speedy revela novos detalhes em cada estação, existindo mais de trinta modelos deferentes em edições limitadas e em parceria com grandes artistas, como Jeff Koons que inseriu desenhos de Paul Gauguin, Édouard Manet, William Turner, Claude Monet, François Boucher e Nicolas Poussin em muitas destas peças.
Cleopatra Clutch, de Lana Marks
A história das Clutch da estilista americana, nascida na África do Sul, Lana Marks teve início em 1984 quando foi convidada para a festa de aniversário de Isabel II, que decorria a bordo do iate real Britannia. E, numa busca por uma pequena mala de mão, percebeu que havia um nicho de mercado quase nada explorado. Após esta descoberta, dedicou dois anos a estudar em conjunto com delicados artesãos a melhor forma para produzir a malinha. Em 1991, lança o seu primeiro modelo em rosa choque, sendo logo um sucesso. As Clutch são fabricadas em couros exóticos como jacaré americano, avestruz e lagarto, tudo obedecendo a um criterioso processo sustentável. As peças são curtidas em França e depois transportadas para Itália, onde os artesãos as confecionam. A marca está agora sob a liderança de Tiffany Marks Isaacs, filha da fundadora Lana. Com a descoberta de um mercado tão apetecível é criada a Lana Marks Cleopatra Clutch, ao que parece em homenagem à amiga Elizabeth Taylor pelo seu papel no filme Cleópatra, de 1963. Esta pequena mala de mão foi projetada para representar mulheres poderosas e pode ser personalizada com diamantes e pedras semipreciosas. Um dos exemplares foi manufaturado em pele de crocodilo branco com fecho em ouro amarelo e 1500 diamantes incolores. É frequente ver atrizes na passadeira vermelha, na noite dos Óscares, com as Clutch de Lana Marks. Ao longo dos anos, a estilista desenhou exemplares para Charlize Theron, Helen Mirren, Julie Christie e Kate Winslet todas cravejadas de diamantes e fechadas a ouro.
1001 Nights Diamond Purse, de Mouawad
Quando, em 1883, David Mouawad deixou as montanhas do Líbano e partiu num barco à vela, pouco ou nada fazia prever o sucesso da Casa Mouawad. Ao chegar aos EUA, começou a trabalhar como relojoeiro e mais tarde como ourives, e só depois em joalharia. Em 1908, regressa ao Líbano e, em Beirute, a capital, David funda a sua primeira oficina de reparação de relógios e joias. A sua paixão era criar relógios por encomenda; cada cliente teria o seu personalizado. Após a morte do pai, Fayez Mouawad assume o negócio e foi um dos primeiros joalheiros a embelezar relógios com pedras preciosas.
Ao longo de cinco gerações, a visão empreendedora para artigos de luxo continua presente e destes mestres nascem peças únicas que viajam pelo mundo. A coleção de pedras preciosa da Mouawad é uma das melhores do mundo, tendo alguns dos maiores e mais raros diamantes, inclui também joias lendárias e históricas. A família Mouawad estabeleceu uma pareceria com a Victoria’s Secret, que ainda mantém, para criarem os famosos Fantasy Bras, biquínis cravejados de pedras preciosas e tecidos a ouro. Na busca pelo original e pela perfeição, a companhia Mouawad criou a 1001 Nights Diamond Purse, em forma de coração com ouro e diamantes. Esta peça de alta-joalharia é a mala de mão mais valiosa do mundo, segundo o Guinness World Records de 2011. Manufaturada com ouro de 18 quilates, incorpora 4517 diamantes, 105 amarelos, 56 rosa e 4356 incolores, num peso de 381,92 quilates. Desenhada por Robert Mouawad, a bolsa nasceu da história épica de mistério e romance entre Scheherazade e o seu rei. Este minúsculo luxo, que leva 8800 horas a ser criado, pode ser adquirido em privado na Private Sales Team da Christie’s, em Londres. Nada foi esquecido; até a caixa que a guarda é uma obra de arte. Todas as gemas, usadas pela Mouawad, são produzidas, livres de conflitos, com certificação Kimberley.