Na Grécia Antiga, ou até antes, oferecer flores era um símbolo de gratidão, de adoração e também de cortesia. E são estes tão dignos sentimentos que Lavínia Veiga transmite com a sua Boutique 107, uma florista de luxo que encanta só de entrar. Aqui não há limites para a imaginação e quase tudo pode ser envolvido em botões e pétalas de rosas vermelhas e muitas outras flores, sempre acompanhadas de paixão e muito amor.
Uma florista de luxo, que conceito é este e como aconteceu?
Iniciei este projeto sozinha, em 2018- A minha empresa foi o meu primeiro emprego, tinha zero experiência no mercado de trabalho e nem sabia que poderia ser empreendedora. Mas desde o primeiro momento quis ter a presença do meu marido, sem ser no pacto social, mas algo que me fizesse senti-lo perto. O nome da loja tem, por isso, o número 107.
Porquê 107, qual o significado?
Há uns anos, na data do meu aniversário, o meu marido ofereceu-me uma enorme quantidade de rosas vermelhas. Quando as contei, eram 107, não havia qualquer significado naquele número, mas o gesto foi tão bonito que, no momento de escolher o nome – isto porque Boutique já estava decidido e não me parecia bem acrescentar Flores ou Rosas; queria algo diferente –, ficou Boutique 107.
Como se sentiu quando viu tantas rosas?
Era um bouquet enorme, vinha numa cesta castanha também muito grande, e só me apercebi que eram 107 no dia seguinte porque estávamos no restaurante quando as recebi e jamais, ali, naquele momento, iria contar as flores. Foi emocionante e é isto que pretendo que a loja seja, que deixe os clientes emocionados ao dar e também quem recebe, claro.
De onde vêm as vossas rosas e como é possível manterem-se tanto tempo?
Temos rosas que podem durar entre três e cinco anos e, na Boutique 107, que já conta cinco anos, nunca tivemos uma reclamação. As rosas preservadas, que têm uma vida mais longa, chegam do Equador. Depois de colhidas, passam por um processo químico, não invasivo para pessoas e animais, por isso duram tanto tempo, e só depois chegam às floristas. As rosas frescas, as outras flores e ramagens são de produtores nacionais.
O seu projeto não é só vender rosas e outras flores.
Temos muitos serviços que servem particulares, empresas e espaços comerciais, como hotéis e outras lojas. Um dos mais procurados é o Rent my Florist, uma avença mensal, que consiste na deslocação dos nossos floristas ao espaço para trocar as flores de forma a manter sempre os arranjos ou bouquets frescos e cheirosos. Por enquanto só entregamos as composições florais em Portugal, de norte a sul, mas em breve levaremos para o mundo todo, estamos a fechar uma parceria nesse sentido. No início, fizemos alguma comunicação, agora, são as pessoas que nos procuram, talvez porque utilizamos as redes sociais onde mostramos muito do nosso trabalho.
O conceito da loja leva-nos ao luxo. Acreditou que este era o seu segmento?
Eu sempre ofereci muitas flores aos meus amigos e familiares, por isso tinha a experiência de cliente. Sabia o que era ir a uma florista, ter de esperar de pé, num sítio sem graça, desorganizado e muitas vezes frio e com o chão molhado, onde uma senhora de idade fazia o ramo, muitas vezes a despachar, nem parecia estar a trabalhar com arte. Isto sempre me fez confusão, eu ia levar um presente tão bonito, e o atendimento era tão impessoal. Então decidi que teria de fazer o oposto. Aqui na loja as pessoas têm um atendimento personalizado. Enquanto esperam, podem sentar-se, tomar uma bebida e ouvir música relaxante ao mesmo tempo que sentem o aroma, tão bom, das flores. As nossas estrelas não são as flores mas os clientes.
Até agora qual foi o vosso trabalho mais surpreendente?
Foi um serviço incrível, em setembro de 2022. Fizemos um trabalho que levou 21.390 rosas vermelhas do Equador, no todo novecentos molhos, 36 horas de trabalho e quinze profissionais a trabalhar sem parar. Isto foi para a suíte presidencial do Hotel Ritz, era a comemoração de um ano de casamento. O espaço tem 250 metros quadrados e o chão foi tudo coberto de pétalas e havia bouquets em vários pontos a pedido do cliente. Nós nunca vimos o cliente, só comunicámos por email e, no início, até achei que nem devia orçamentar, poderia ser alguém emocionado com um momento qualquer que não teria continuação. Mas depois levei o pedido a sério, o nosso arquiteto floral foi ao local fazer um estudo e fizemos o trabalho. Nada foi da nossa autoria porque este cliente já tinha tudo planeado. Para mim, este trabalho teve a mão de Deus.
Mas fazem serviços da vossa autoria e acredito que surpreendam os clientes.
Sim, a maioria dos nossos serviços são criados e idealizados por nós; aquele foi uma exceção. Temos um arquiteto floral que está apto para fazer qualquer estrutura que possa ser coberta de flores; o que fazemos mais são ursos com a forma do Paddington ou do Teddy, onde os maiores podem ter um pouco mais de um metro de altura, todos cobertos de rosas. Mas, se o cliente quiser uma estrutura de casa ou pérgula para cobrir de flores, também fazemos, creio que não há limites para fazer alguém feliz.
Qual a razão por ter juntado o champanhe às flores?
Somos uma florista de luxo e não é por ser caro ou por termos uma decoração com aspeto luxuoso; o nosso luxo está na atenção que damos ao cliente. Para nos mantermos num patamar elevado e sermos distintos da concorrência, introduzimos a champanharia, isto é, oferecemos uma flute de champanhe a quem espera pelo arranjo ou bouquet. E também na loja passámos a ter, para vender, champanhe e chocolates ótimos companheiros para um ramo de rosas, a mistura perfeita para muitos anos de vida a dois e até para um pedido de desculpa. As rosas são paixão, são amor e são também amizade.
Quais são as próximas iniciativas que vai ter?
Neste momento tenho uma sócia, a Máxima Rasgado Tonet, que é mesmo o máximo, e vamos abrir uma loja em Luanda, onde nasci, nas Galerias Patriota, e, se alguém se identificar com o nosso conceito, fazemos franchising.
O F Club Magazine tem sido importante para si?
Sim, sem dúvida. O F Club Magazine tem na sua base uma extraordinária mentora, a Fátima Magalhães, uma grande amiga. E o clube é mesmo isso: amizade e apoio aos projetos de cada uma de nós. Todas são mulheres muito trabalhadoras e acredito que temos um denominador comum, que é a interajuda. Para mim é uma grande alavanca do meu negócio e sinto-me uma sortuda por pertencer a um projeto muito bem desenhado e mentorado.
Tem algum lema ou algo que para si seja inspirador?
A minha vida é um desafio constante porque me foi submetendo a responsabilidades muito grandes desde muito cedo. Tinha 22 anos quando abri a primeira loja no Atrium Saldanha, para vender rosas e flores, e havia o mercado das Picoas, mesmo ao lado, que também vendia flores. Creio que fui a lojista mais nova que este Centro Comercial teve. E, agora, outro desafio, abrir uma loja igual em Luanda. Mas a vida é isto: desafios constantes.