
A construção civil acompanhou desde cedo o crescimento pessoal e profissional de Nancy Esteves. Filha e nora de homens que erguem edifícios residenciais, encontrou neste trabalho, muitas vezes severo, o seu mundo preenchido de harmonia. Ao lado do marido, vai criando casas revestidas de beleza e conforto para que cada nova família sinta que encontrou um ambiente relaxante e um lar para sempre.
Como é crescer e ser profissional no ambiente da construção civil?
Este sempre foi e é o meu meio, sou filha e nora de construtores civis e, de certa forma, tive um crescimento no meio de homens com os quais muitas vezes é difícil lidar. Ao longo de vinte anos aprendi que na maioria das vezes é preciso respirar antes de qualquer resposta; aqui nem sempre há falinhas mansas porque este é ainda um meio muito masculino.
Ser uma empresa familiar deu-lhe privilégios ou vantagens?
Quase terminei o curso de Gestão na Universidade Autónoma, mas, como comecei a trabalhar cedo e gostava muito do que fazia, fui continuando. Agora, sou um pouco privilegiada, porque tenho acesso a fazer aquilo de que mais gosto, escolher materiais, equipamentos e também a otimização do espaço de cada casa. Ser mulher e mãe dá-me maior noção daquilo que uma família precisa. O facto de os meus pais e os do meu marido terem uma empresa neste setor foi uma vantagem, porque, quando constituímos a Rosaforte, em 2004, já levávamos uma grande experiência transmitida pelos nossos pais, o que nos permitiu crescer como profissionais.
Direcionaram-se para o mercado de luxo. Houve alguma razão?
Creio que as zonas onde construímos é o que nos levou e ainda nos leva a apostar neste segmento. Num local onde o preço por metro quadrado é elevado, não se podem construir casas ou apartamentos de preço mais em conta. Os acabamentos e os materiais também fazem a diferença, porque tudo tem de ser semelhante ao meio envolvente.
Quais foram os trabalhos que podemos referenciar?
Estivemos cerca de quinze anos na Urbanização do Infantado, em Loures. Fizemos o primeiro edifício, correu muito bem, e fomos investindo no local à medida que aquela zona crescia. Já estão quatro fases concluídas, havendo construção, nossa, em três delas; no total serão seis fases com cerca de dez mil residências. Agora, vamos começar a construir em Carnaxide, no Alto da Montanha, serão mais dois Luxur.
Essa designação tem algum propósito?
São edifícios que revelam acabamentos exteriores e interiores em materiais nobres e equipamentos de vanguarda, caso dos eletrodomésticos e da loiça sanitária de gama alta. Todos os Luxur têm piscina na cobertura e, por norma, temos apartamentos duplexes com piscina privada.
O que sente quando sabe que vai começar uma construção?
Adoro, não só pelo prazer que me dá fazer e revestir uma casa, mas, acima de tudo, por perceber o contentamento do cliente quando vê o nosso trabalho final; na maioria das vezes, as casas são compradas em planta. Isto representa a confiança que o cliente e as instituições bancárias depositam em nós, e é um orgulho para a empresa. Há também a vantagem de se poder escolher alguns pormenores para a nova casa. Uma residência não é só o lar de família; é, na maioria das vezes, o investimento de uma vida. Mas o que mais gosto é ver o brilho nos olhos do cliente no dia em que lhe entregamos a casa, isto diz-me que ele está feliz. A casa tem de ser o sonho de quem lá vai viver.
Trabalhar e viver com a mesma pessoa é fácil ou há regras?
Acima de tudo, existe muita cumplicidade entre nós, ajudamo-nos muito enquanto profissionais e diferenciamos o terreno de cada um. Tudo o que é a parte dura da obra está com o Paulo; comigo está a parte mais leve, a de lidar com o público e a escolha dos revestimentos, loiças e outros materiais. Começámos a namorar quando eu tinha 15 anos, fizemos faculdade ao mesmo tempo e estamos juntos há trinta e cinco anos, casados há vinte e nove, e temos dois filhos; é sem dúvida um saldo bastante positivo.
Algum segredo para uma união tão estável?
Não sei, mas a nossa é bastante estável, somos muito unidos. Talvez o facto de a nossa filha ter sido diagnosticada com epilepsia grave, quando só tinha 5 anos, tivesse contribuído para a harmonia que temos. Ultrapassámos e continuamos a ultrapassar momentos que nos põem à prova e isto acabou por nos unir mais.
Para além da empresa de construção tem algo mais como empresária?
Criei a Empório N, uma loja de roupa, em 2007, isto porque sou apaixonada por moda. Tive a hipótese de abrir este espaço, na Expo, num dos edifícios que construímos. Vendemos essencialmente a marca italiana, Elisabetta Franchi.
A Nancy transmite confiança e revela felicidade constante, como consegue?
A minha felicidade vem da minha estrutura familiar. Cada vez que saio de casa, sei que ficou tudo bem e assim tenho a cabeça mais livre para trabalhar com ânimo. E isto é devido ao maravilhoso marido que tenho, aos meus filhos e ao meu pai, que ainda hoje me diz “filha tenho tanto orgulho em ti”. Eu tenho cinquenta anos e ouvir isto comove-me e enche-me de alegria.
Tem algum lema de vida ou frase que a tenha inspirado?
Desde que passei pela provação da minha filha, digo sempre “saúde, o resto eu conquisto”. Porque o resto é o resto, uma questão de mais ou menos algo material, mas sem saúde pouco ou nada se faz. Tenho a perfeita noção de que o dinheiro na saúde é fundamental e a minha liberdade financeira permite dar conforto à minha filha.
O que representa o F Club para si?
É algo muito interessante porque todas as mulheres empreendedoras que fazem parte do clube partilham as suas experiências e, nos tempos de pandemia, amadurecemos e aprendemos com as dificuldades de cada uma. A nossa mentora Fátima Magalhães é minha amiga há muitos anos e desafiou-me para esta aventura que me permite conhecer histórias de vida incríveis de pessoas únicas.