Depois de se formar em Belas-Artes, pela New School of Interior Design, em Nova Iorque, e de lançar a sua primeira coleção de mobiliário nos EUA, em 2016, a designer Indira Lourenço prepara-se para lançar, muito brevemente, a sua primeira coleção de roupa em Luanda. Através das peças que cria, a artista pretende aliar a modernização às tradições da cultura africana, reforçando a identidade angolana. Nesta conversa com a F Luxury, a designer partilha a sua paixão pela arte de criar e antecipa os projetos futuros.
O que a levou até aos EUA?
Fui para os Estados Unidos da América, onde os meus irmãos já estavam a estudar, para tirar Engenharia Química, em 2008. Sempre gostei de artes e de moda, mas, em Angola, pensava-se que seria difícil estabelecer-me como designer de interiores ou de moda, e acabei por escolher esta área, por acreditar que era uma área com futuro.
Quando decidiu estudar Belas-Artes?
Percebi que não queria estudar Engenharia Química ao fim de dois anos nos EUA e foi nessa altura que comecei a procurar uma alternativa. Comecei a estudar melhor o mercado americano e percebi que o curso de Belas-Artes era o mais indicado para mim, por conciliar o design de interiores, a área de que sempre gostei, e a arquitetura, que era uma área em expansão em Angola.
O que a fascina mais nas artes?
A possibilidade de expressar as nossas emoções, mas também a oportunidade de contribuir para a promoção do nosso país e de conseguir influenciar as gerações mais novas.
O que a levou a criar uma coleção própria de mobiliário?
No último ano do curso, fiz uma viagem à Escandinávia e fiquei encantada com a modernização e a leveza do mobiliário nórdico. Esta viagem inspirou-me como artista e comecei a pensar em desenvolver a minha primeira coleção. Então, em 2014, criei uma empresa, a I. Lou, e desenhei uma coleção de mobiliário na qual conjuguei a leveza que vi na Escandinávia e a tradição da cultura africana. Fiz alguns trade shows, em Miami e em Paris, e, nessa altura, surgiu a oportunidade de começar a trabalhar com a BoConcept, em Nova Iorque, e a CALUCO LLC’s, na Califórnia, para onde, ainda hoje, faço coleções de mobiliário.
Como foi a aceitação da sua coleção pelo público norte-americano?
O público de Nova Iorque aceitou-a muito bem. Senti-me muito bem-vinda. Os americanos gostam de algo novo, principalmente, de alguém que vem de África. No entanto, quando fui para a Califórnia, em 2019, senti que o círculo é mais fechado e que é mais difícil entrar no mercado e concretizar vendas.
De todas as peças de mobiliário que desenvolveu, qual foi a que mais a marcou?
A Zungueira, que é a cadeira que dediquei às zungueiras de Angola. Esta foi também a peça que despertou mais interesse nos EUA e que, um dia, gostaria de recriar para ser vendida a um preço mais acessível.
Por que razão decidiu desenvolver agora uma marca de roupa?
É um sonho de infância que estou a conseguir realizar agora. É algo que sempre quis fazer. Nós, angolanos, somos muito vaidosos, gostamos de nos vestir bem, e a roupa também faz parte da nossa cultura. Com a minha marca de roupa, a Kukeleka, espero levar uma parte da identidade angolana a outros países do mundo.
O que podemos esperar desta primeira coleção?
Esta coleção vai ser inspirada na ilha do Mussulo. É uma coleção que vai refletir o quotidiano dos angolanos, nomeadamente o dia a dia das pessoas que vivem e trabalham na ilha do Mussulo, com cores e padrões tropicais.
A cultura africana faz parte da sua identidade como artista?
Sim, com certeza. Angola foi o país onde nasci e vivi até ir estudar para os EUA, e esta é uma ligação que fica para sempre. Além disso, a cultura africana é muito forte.
Qual é a mensagem principal que pretende transmitir com esta coleção de roupa?
Em Angola, vivemos três décadas de guerra, sofremos muito, e o desenvolvimento não foi dos melhores. Penso que perdemos parte da identidade angolana, e esta coleção pretende reforçar essa identidade. Por isso, o foco desta coleção é o conforto, as cores e os padrões que comunicam a essência de Angola.
Esta nova marca de roupa é também uma aposta no seu país natal, Angola?
Sim. O meu objetivo é abrir um atelier em Luanda, produzir a roupa em Angola e, dentro de um ano, abrir uma loja própria da marca em Luanda.
Que pilares considera fundamentais para criar uma marca de sucesso?
Em primeiro lugar, o conhecimento da área é fundamental, o que pode advir da experiência ou da educação formal. A persistência também é muito importante. Ser adaptável e não desistir perante as dificuldades são duas características fundamentais para criar uma marca de sucesso. Desenvolver um produto único e inovador e adequado ao público-alvo é outro passo fundamental.
Que expetativas tem para a sua marca de roupa?
Depois de abrir o atelier e a loja em Luanda, gostava de estabelecer algumas colaborações com lojas de roupa na Europa e nos EUA. Quero traduzir a essência de Angola em todas as minhas coleções, e o meu maior sonho é que o meu trabalho como fashion designer seja reconhecido no meu país mas também cá fora. Quero que as pessoas de outras regiões do mundo possam conhecer melhor a essência angolana através da minha marca.