Após uma década na SKF, o maior fabricante mundial de rolamentos, Susanne Hägglund entrou na Volvo Cars em 2018 e não mais deixou o mundo automóvel. Desde janeiro de 2022, Susanne passou a assumir os destinos da marca sueca no mercado português. Apaixonada por novas culturas e idiomas, rendeu-se aos encantos de Portugal, tendo chegado com o objetivo de cimentar a estratégia global da Volvo rumo à sustentabilidade e à eletrificação.
A Susanne tem estado muito envolvida com o universo automóvel. O que a levou a interessar-se por esta indústria?
Neste momento o setor automóvel está a sofrer uma profunda transformação que considero muito aliciante. Não é só o produto em si, com um foco cada vez maior na mobilidade verde e a afastar-se das motorizações tradicionais, mas também o foco na experiência do cliente e na possibilidade de oferecer serviços e mobilidade em vez de apenas automóveis, a par com a própria mudança de modelo de negócio que me fascina a esta indústria. Acredito que as pessoas vão dar sempre valor à mobilidade porque ela dá-nos liberdade, mas a forma como esta é entregue ao mundo está a mudar e isso é não só entusiasmante como é também uma grande oportunidade para todos os que nela trabalham.
Por outro lado, gosto de fazer parte da mudança em benefício de um bem maior. Neste caso a Volvo permite-me contribuir diretamente para a defesa ambiental. Sabemos que somos parte do problema e queremos fazer parte da solução. Motiva-me saber que posso ajudar a construir um mundo melhor para as gerações vindouras.
Esteve à frente da direção da Estratégia Corporativa da Volvo Cars e mais tarde foi nomeada vice-presidente e diretora do Car Service Business. Que experiências adquiriu nestes cargos diretivos?
Tenho tido a felicidade de conhecer várias áreas de negócio dentro da nossa cadeia de valor e isso permitiu-me ter uma visão abrangente do negócio e compreender realmente a profunda transformação que este atravessa. Ganhei experiência relacionada com a complexidade do nosso negócio e da forma como os diferentes temas estão interligados, não só para nós, internamente, como também para os nossos importantes parceiros concessionários e a sua ligação com fornecedores e outros fornecedores externos.
Acima de tudo, adquiri experiências que acabam de enfatizar ainda mais a minha convicção de que o poder está nas pessoas. O sucesso não é alcançado por um indivíduo ou por um líder, é o resultado do esforço, da colaboração e efeito de múltiplas pessoas que trabalham em conjunto com um mesmo objetivo. É por isso que continuo totalmente convencida de que é fundamental lutar para trazer clareza, simplicidade e motivação aos outros, para que possamos tirar o melhor de todos nós. Para o fazer, concentro-me muito na transparência, na comunicação e na confiança. Além disso, nas várias ações que são capazes de criar compromisso, motivação, empoderamento e responsabilidade.
Numa indústria que está a passar por uma enorme transformação e num ambiente de mercado cada vez mais competitivo é importante criar uma cultura onde as pessoas ousem experimentar coisas novas sem serem penalizadas em caso de falha
Não existe uma receita de sucesso e é por isso que temos de ousar explorar, temos de assumir riscos e apostas calculadas. Só quem ousar fazer isso é que será bem-sucedido.
Quais os principais desafios para a Volvo Cars se tornar 100% elétrica até 2030?
No que depende da marca, será fundamental conseguir eletrificar toda a gama e lançar modelos atrativos no mercado, o que iremos conseguir apresentando um novo modelo elétrico por ano. A aceitação dos clientes em Portugal tem sido muito positiva para os modelos que já apresentámos e estou confiante que irá continuar assim. Por outro lado, nas variáveis que não dependem de nós penso que o crescimento das infraestruturas será fundamental para conseguirmos massificar o acesso ao veículo elétrico e garantir a mobilidade.
No ano passado, recebeu o prémio “Automotive News Europe Rising Star”, concedido a executivos do setor automóvel que se destacaram. O que representou para si este reconhecimento?
Este reconhecimento foi efetivamente recebido em 2020, mas por alguma razão (creio que fruto dos resultados alcançados no nosso mercado) a Automotive News decidiu volta a falar dele, o que me deixa muito feliz. Este é um reconhecimento que muito me honra, sabendo da importância do mesmo e das várias personalidades que têm sido destacadas ao longo dos anos. Há uma grande equipa por detrás desta distinção e a minha gratidão vai para as excelentes pessoas e equipas com as quais tenho tido o prazer de trabalhar.
É membro do Ruter Dam, programa sueco de desenvolvimento executivo que visa aumentar o número de gestoras mulheres que alcançam uma posição de alto nível nos negócios. De modo geral, como vê atualmente a mulher no mundo empresarial?
Tenho a felicidade de ser de um país (Suécia) e de uma empresa (Volvo) que tem esta paridade como um dos seus alvos e prioridades desde há muito tempo.
Mas tenho presente que não é assim em todo o lado e que, enquanto sociedade, ainda temos um grande caminho a percorrer. Estudos recentes indicam que apenas 5% estão presentes em cargos de gestão superior. Para mim, a diversidade de género só será alcançada se criarmos ambientes de trabalho onde as mulheres queiram assumir posições de liderança, reduzir os preconceitos inconscientes que nós como mulheres enfrentamos (por exemplo, uma mulher é promovida com base na experiência anterior enquanto os homens são promovidos com base em potenciais), criar condições de trabalho iguais, incluindo salários e compensações, e apresentar mais e mais modelos que ousem assumir a liderança e criar o caminho. Penso que tem melhorado ultimamente, mas ainda há muito a fazer.
Quais são os seus principais desafios?
No meu percurso enquanto líder diria que o principal desafio é muito recente e está relacionado não só com a pandemia, mas também com toda a incerteza que vivemos atualmente. Liderar em tempos de incerteza é uma situação quotidiana para todos. Para mim, isto significa estabelecer prioridades claras, manter a calma, trazer esperança, comunicar muito, ser confiante, mas também flexível e ágil.
E qual a sua maior conquista?
Diria que a maior conquista está ligada ao meu principal objetivo – causar um impacto positivo nas pessoas com quem trabalho e ser capaz de conduzir as minhas equipas para patamares mais elevados, mostrando dedicação, coragem e ambição
No seu tempo livre, o que mais gosta de fazer para relaxar?
Relaxo a fazer desporto. Gosto muito de correr, de spinning, de andar a cavalo, de fazer escalada e ski. Também adoro viajar, criar novas relações e aproveitar o tempo livre com família e amigos.
Que conselho daria a uma mulher que esteja a pensar seguir uma carreira na indústria automobilística?
Atreva-se a ser quem é e tenha confiança nos valores e nos atributos que traz, embora por vezes sejam bastante diferentes dos atributos e dos estilos de liderança das pessoas que irá encontrar na indústria. Mantenha-se fiel aos seus valores e trate as pessoas com respeito. Não tenha medo de mudar, de mudar e de fazer perguntas relacionadas com a dinâmica empresarial atual. Obviamente que é importante honrar o passado, mas é crucial poder abraçar novas formas de trabalho, novos modelos de negócio e olhar para além dos conceitos tradicionais. Este é um sector excitante que está a sofrer uma profunda revolução e é sem dúvida fantástico fazer parte dele. Por isso, venha juntar-se a mim!