Ana Barros criou a sua Martech Digital em plena pandemia. CEO de uma empresa, docente universitária e presidente de uma associação, a boa gestão de tempo é para si primordial para conseguir sentir-se realizada. Fomos conhecer um pouco melhor esta mulher corajosa que gere família, aulas, associação e empresas em Portugal e no Brasil.
Como foi criar uma empresa do nada e em plena pandemia?
Os anos de experiência nas áreas de marketing e comunicação, mercado das tecnologias e empreendedorismo deste lado e do outro lado do Atlântico (Brasil), deram-me, de facto, sustento e coragem para no meio de uma pandemia não ter medo de arriscar e ir em frente. Por isso, não diria que tenha sido propriamente do nada, pois o conhecimento, o know-how do mercado e o networking vieram agarrados aos cabelos brancos e, confesso, foram os grandes alicerces para que tudo acontecesse. Claro que sempre com uma pitada de coragem e loucura para voltar a empreender, aos 42 anos, no meio de uma pandemia e com uma instabilidade económico-social global. A empresa foi idealizada com base em valores e, apesar de ser uma empresa que atua no mercado business-to-business (B2B), é acima de tudo uma empresa de pessoas e que existe para ajudar outras pessoas. Eu diria que mais do que B2B somos H2H (human to human).
Em que consiste a Martech Digital a que preside?
A Martech Digital tem como propósito contribuir para o crescimento do ecossistema do marketing digital e das tecnologias, tornando o negócio das empresas escalável e worldwide. Como? Unindo o marketing e a tecnologia com a definição de processos de marketing e vendas alinhados com o negócio, a sua implementação através de ferramentas digitais ágeis e a educação do mercado para a transformação digital do marketing, dos conteúdos e da comunicação. O nosso objetivo é posicionar, criar autoridade e notoriedade das empresas B2B nos diferentes meios e canais de comunicação. Para isso, temos um leque de oferta de serviços na área de marketing digital, marketing de conteúdo, comunicação e relações-públicas, social media e transformação digital de marketing e vendas.
A estratégia de marketing e comunicação que desenvolvemos para os clientes é com base num ciclo infinito de contínua relação e experiência com o cliente, tendo como base processos, tecnologia e pessoas.
De que forma gere a sua equipa?
A Martech Digital foi pensada para funcionar no digital. Em qualquer parte do mundo e em qualquer horário. É suportada por tecnologia que permite às pessoas poderem trabalhar remotamente e acederem aos projetos dos clientes em real time. Todos têm acesso à jornada do cliente, desde a área comercial (CRM) aos projetos e à faturação de cada cliente. A informação flui de forma ordenada, transparente e responsável. Além do email, temos ferramentas de comunicação que visam promover uma maior proximidade entre todos e um ERP onde gerimos e centralizamos os projetos dos clientes. O modelo de trabalho é maioritariamente remoto, sendo que às terças-feiras é o dia sagrado, isto é, é o dia em que estamos todos presencialmente no escritório. Aproveitamos esse dia para reuniões internas, discutir os projetos dos clientes, fazer brainstormings de novos projetos, alinhar a estratégia de marketing e comunicação da própria Martech Digital e, claro, fomentar a cultura organizacional. Sendo nós uma empresa H2H e trabalhando quase exclusivamente no e para o digital, faz-nos muito sentido a interação entre as pessoas, pois a troca é mais rica e promissora. E não abrimos mão disso.
Não me identifico com a microgestão, pelo que fazemos pontos de situação semanais de todos os projetos, bem como reuniões verticais de cada serviço que entregamos ao cliente. Além disso, acompanhamos semanalmente os resultados da área comercial e do marketing, bem como o alinhamento entre estas áreas.
A Ana é CEO de uma empresa, docente universitária e presidente de uma associação. Como consegue gerir o seu tempo, sobretudo com a família?
Gestão e organização de tempo são fundamentais. Sou uma pessoa que vive atrelada à agenda, principalmente nos dias de semana. Tenho uma rotina e dinâmica que se inicia pelas 6h20 e termina perto da meia-noite. Planeamento é essencial, caso contrário, algo fica para trás. Entre a gestão familiar (temos quatro cá em casa dos 19 aos 6 anos, além do Bento, que é o nosso cachorro e o Xico, o nosso pássaro), emails para tratar, telefonemas e reuniões para fazer, almoços de trabalho, atividades das meninas ao final do dia, terapias à mistura, aulas na universidade e um pezinho na Casa Jardim do Sol, o dia é cronometrado ao minuto e a conciliação do horário obrigatoriamente cumprida. Tipicamente dou aulas na universidade à noite, pelo que o dia está dedicado à Martech Digital e à parte da rotina familiar. Aproveito o início da manhã pelas 8h, assim como o almoço e fins de dia, quando se justifica, para tratar de temas relativos à associação da Casa Jardim do Sol. Duas vezes por semana, segunda-feira e quinta-feira ao almoço, estou reunida com a equipa da agência que tenho no Brasil desde 2012. Cada reunião que agendo tem hora marcada e tento cumprir escrupulosamente o horário para os restantes compromissos da agenda não resvalarem. Assim, é essencial levar objetivos bem definidos para as reuniões e sair destas com planos de ação para que os temas possam evoluir. Antes das 17h apanho as meninas na escola e, entre levá-las às atividades ou terapias, aproveito este tempo para a interação com elas. Sou uma mãe presente e confesso que corro muito para não falhar neste meu papel e função. À noite, coloco o chapéu de professora universitária e, mesmo cansada e por vezes a resmungar para comigo mesma, saio das aulas com o sentimento de dever cumprido. Chego a casa cansada, mas realizada. Quando temos o nosso propósito bem definido e estamos alinhados com os nossos valores, conseguimos fazer várias tarefas, pois fazemos com paixão. Mas temos de estar altamente disciplinados, focados e ter uma grande capacidade de gestão e organização do tempo.
Qual o seu papel na Associação Casa Jardim do Sol?
A Casa Jardim do Sol tem uma história engraçada. Foi o primeiro espaço fora de casa que acolheu as minhas duas filhas mais novas, Vitória e Carminho. Tudo começou em 2016 quando dei de caras com a Pedagogia Waldorf e logo me identifiquei. Entretanto, a Casa Jardim do Sol em 2020, sofreu uma transformação e alguns desafios de gestão, pelo que foi convertida numa associação sem fins lucrativos, dedicada à Pedagogia Waldorf para crianças dos 2 aos 5 anos. O propósito manteve-se, a forma de constituição é que se alterou. Passou a ser uma associação composta por educadores de infância dentro da Pedagogia Waldorf e pais/ex-pais da Casa Jardim do Sol. Foi aí que fui convidada para abraçar o projeto como presidente. O meu principal papel é fazer este projeto que, acolhe até vinte crianças, crescer, juntamente com os outros elementos da associação. Exerço funções de gestão geral da associação, juntamente com outros membros da associação.
Que conselho daria para quem, como a Ana, quer singrar na vida empresarial?
Eu costumo dizer que ser empresária ou empreendedora não é para todos. Há que ter muita resiliência, visão a médio-longo prazo, flexibilidade, facilidade de adaptação, coragem, gostar de pessoas, saber cuidar delas e, claro, uma grande pitada de loucura! Sim, é de loucos investir neste país. Quando se tem uma empresa, esta também é a nossa casa e, como tal, temos dependentes, tal e qual como no formato da família, em que os filhos são os nossos dependentes. Isto significa que temos uma responsabilidade acrescida, pois existem muitas famílias que dependem de nós, da nossa empresa. Por isso, nunca podemos falhar com as pessoas. No meio de uma “tempestade”, se algo faltar, o líder é o último de facto a receber e é se receber! O líder cuida, auxilia, ensina e é ensinado. Isto é essencial ter em conta quando se cria um negócio. Quem quer singrar nesta vida empresaria tem de se mentalizar que as “rosas têm espinhos” e, como tal, vai ficar muitas vezes ferido, viverá períodos de montanha-russa com altos e baixos no negócio e terá de estar disponível para a empresa/pessoas 24h, pois não é possível fazer apenas o horário comercial das 9h às 18h e desligar-se totalmente do seu negócio. Assim, o conselho que dou é acima de tudo que tenham experiência profissional, invistam nos estudos, em autoconhecimento, trabalhem as suas soft skills, viagem muito para conhecer o mundo, outras culturas, outras pessoas, outros modelos de negócio, tenham a coragem de sair da zona de conforto e rodeiem-se das pessoas certas, aquelas que ajudarão a evoluir o negócio.
Para si, o que é que as mulheres fazem de diferente enquanto empresárias?
As mulheres têm uma grande capacidade de multitasking. Não é à toa que só a mulher pode gerar uma vida. Por aí já se vê toda a capacidade de resiliência, adaptação e a flexibilidade que reside numa mulher que mensalmente ou durante nove meses sofre uma transformação física, emocional e psicológica brutal. Isto dá-nos a capacidade de gerir e vivenciar diferentes momentos da nossa vida, pois estamos em constante mudança hormonal e em constante equilíbrio, o que se reflete na capacidade de lidarmos e gerirmos diferentes tarefas e papéis durante o dia.
Que mensagem deixaria para as futuras gerações?
Invistam nos estudos e sempre que possam vivenciem experiências profissionais em diferentes ambientes enquanto estudam. Não se limitem apenas ao digital. Somos seres sociais, pelo que há n competências que é necessário viver e trabalhar em sociedade. Por isso, observem mais, oiçam mais, vivenciem mais. Sejam empáticos. Quando se depararem com um problema, encarem-no como um desafio e pensem em diferentes cenários para o contornar. Não apresentem os problemas e sim as soluções. Sejam criativos e convidem-se a sair da zona de conforto. Só assim irão evoluir. Sejam os seus próprios empreendedores, pois tudo o que fizerem e como o fizerem será convertido apenas para vocês e contribuirá para a vossa evolução. Arrisquem, tenham coragem e nunca medo de errar. Só não erra quem não tenta, quem fica parado no tempo. Usem o online e o offline e aproveitem o mar de oportunidades globais que hoje têm acesso facilitado.