Luísa Rosas, designer de joias e CEO da Luísa Rosas, herdou a arte da joalharia através de um forte legado. Sendo igualmente sócia-gerente da David Rosas, empresa familiar, a arquiteta de formação tem empreendido o seu próprio trajeto em joalharia e, hoje, as suas criações estão presentes não só em Portugal como no mundo. Tendo ganho holofotes graças a uma peça que ofereceu à atriz Julia Roberts, Luísa acedeu a conversar connosco sobre o seu trajeto e as suas joias inspiradas na Natureza.
A Luísa faz parte da quinta geração de uma família dedicada à ourivesaria. Como foi crescer entre joias?
Foi algo muito natural, que fazia parte do meu dia a dia. Os meus pais envolviam-nos muito no seu trabalho, nas suas rotinas, nas suas viagens de trabalho, nas idas às fábricas e até nas suas decisões.
A loja da Boavista no Porto era a nossa base, para onde íamos e de onde partíamos, e desde cedo ajudámos e sentimo-nos envolvidos neste negócio de família. Só muito mais tarde vim a aperceber-me da riqueza de conhecimento que isso me trouxe.
Seguindo a sua vocação, estudou Arquitetura. Sempre pensou dedicar-se ao mundo da joalharia?
Não. Sempre pensei o contrário, na verdade. Segui Arquitetura por paixão e penso que por vocação, que ainda sinto, e até há dez anos sempre pensei que ela faria parte da minha vida profissional. Na realidade não deixa de fazer, mas indiretamente.
Desenhei a minha primeira coleção como resposta a um desafio que o meu irmão me lançou e, nessa altura, não me passava pela cabeça vir a deixar a Arquitetura. À medida que a marca de joias foi crescendo, fui percebendo que um dia teria de fazer uma opção. Foi o que veio a acontecer e, embora me tenha custado muito, sinto hoje que foi a melhor.
De que forma é que a sua formação tem contribuído para os projetos da insígnia da família?
Na verdade, a minha formação tem-me ajudado bastante em várias áreas da empresa e completa bem a área de formação do meu irmão, que é Gestão. Durante muito tempo eram da minha responsabilidade os projetos das nossas lojas e ainda hoje tenho outras responsabilidades dentro da empresa além das joias, no que diz respeito a trabalhos que envolvam mais criatividade, mesmo que estratégica.
As joias sempre foram alvo de grande atenção por parte das mulheres. Como foi ser projetada para a linha da frente após ter concebido e oferecido uma pulseira em ouro e diamantes a Julia Roberts?
Foi um momento que de alguma forma fica na história da marca e que foi vivido, naturalmente, com entusiamo. Foi a própria Julia Roberts que levou a pulseira para o shooting da Instyle e que pediu para a utilizar; ficámos a saber quando a revista nos contactou para que partilhássemos informações sobre pulseira. O facto de ter sido algo que aconteceu espontaneamente fez com que tudo fosse mais especial.
Luísa Rosas tem-se afirmado como uma marca de joalharia de luxo portuguesa de grande sucesso internacional. Na sua ótica, a que se deve esta dimensão a nível mundial?
Penso que se deve a um conjunto de fatores, alguns mais objetivos do que outros. Posso salientar alguns dos que me parecem ter mais relevância, como o facto de se tratar de uma marca com uma identidade e um ponto de vista fortes, o tipo de linguagem visual/artística que utiliza tanto nas joias como em todos os aspetos que a compõem, o cuidado do pormenor e da originalidade.
As suas coleções são inspiradas na Natureza. Trata-se de uma fonte inesgotável ou pensa enveredar por outros temas?
A Natureza como fonte de inspiração é inesgotável. Não viverei anos suficientes para que se esgote. O que mais me interessa na Natureza são algumas especificidades, como as suas estruturas, os seus padrões, a forma como se desenvolve, e, mesmo dentro deste subtema, as possibilidades são quase infinitas.
Quando cria uma peça, em que se baseia primeiro?
O meu processo criativo cruza a racionalidade com a emocionalidade. Numa primeira fase, desenho sem filtros e de um modo muito livre formas minhas que retiro de elementos da Natureza e que me parecem ter potencial. Tenho uma base de imagens grande que alimento há muitos anos, onde vou guardando imagens que me interessam. Esta primeira fase envolve muita experimentação e aos poucos vou afunilando para desenhos que possam vir a transformar-se em joias.
Quando acredito que tenho desenhos com potencial, começo a cruzar com o lado mais racional, que tem que ver com as necessidades da marca. São exemplo disso as tipologias de produto que fazem sentido termos ou o target de preços que queremos atingir.
Ao desenhar uma joia, que tipo de mulher tem em mente?
Intuitivamente, penso em mulheres determinadas e com uma personalidade forte. Talvez sejam, na verdade, as únicas características em que penso.
Em 2017, apresentou, com Catarina Furtado, fundadora da associação Corações com Coroa (CCC), o seu projeto solidário Flying Seeds, uma campanha pela igualdade de género. Quão importante é para si servir causas?
Para quem tenha o mínimo conforto na sua vida, servir causas, estar atento aos outros, seja a que escala for, é algo que deveria ser básico.
Ao nível empresarial, transporto o mesmo princípio, dado que a responsabilidade social hoje deve ter um papel relevante. A CCC trabalha os pontos nos quais nós, enquanto instituição, acreditamos também: é o investimento na educação que fará mudar gerações. Acredito profundamente que não há outra ferramenta com este poder. Semeando educação hoje, vamos colher amanhã.
Criou também a House of Filigree com o objetivo de enaltecer e promover uma das mais antigas e prestigiadas técnicas de ourivesaria portuguesa: a filigrana. De que forma é que esta técnica faz parte da Luísa Rosas?
A filigrana é uma arte que terá começado na Mesopotâmia há milhares de anos e que se espalhou por várias geografias. Portugal foi um dos países onde a filigrana teve um enorme relevo, especialmente nos últimos dois séculos, e faz parte da cultura do país.
As quatro gerações que me antecederam tiveram um papel relevante nesta arte e foi também por esse motivo que eu e o meu irmão sentimos que era da nossa responsabilidade contribuirmos para que esta arte continue a ter um papel relevante no ADN português. É uma arte que está em extinção – a maior parte das peças que vemos nas montras são feitas por molde e não à mão – e que precisa de ser protegida com urgência. O projeto House of Filigree surge, por isso, com a missão de salvaguardar a filigrana de manufatura, porque considero a filigrana uma arte muito rica e extremamente atual. Entendi também que a utilização da técnica nas peças da marca Luísa Rosas mostra uma arte que homenageia o passado, mas que é também de futuro.
Num futuro próximo, que projetos pretende desenvolver?
Em 2023, temos vários projetos que queremos desenvolver, nomeadamente lançar uma submarca ainda no primeiro semestre e consolidar sinergias B2B na Europa, Estados Unidos e Japão.
Entrámos neste novo ano com uma nova vertente muito relevante para a marca e para o grupo, que é a área do fabrico com a aquisição, no fim de 2022, da maior e melhor empresa de fabrico de joias em Portugal, situada em Guimarães. Uma empresa com a qual já trabalhávamos há vários anos, de extrema qualidade e que exporta uma boa parte do seu fabrico para grandes marcas internacionais.