Arquiteta de formação e vocação, Ysnara Almeida decidiu deixar o seu Brasil natal para exercer a sua paixão em solo português. Tendo já elaborado projetos de arquitetura interior na Avenida da Liberdade e Avenidas Novas de Lisboa, bem como hotéis de luxo em Luanda, Ysnara tem hoje a certeza de que fez a opção certa ao aventurar-se por novos desafios. Em entrevista exclusiva, fique a conhecer melhor esta mulher elegante, tanto no trato como no profissionalismo.
Tendo um pai engenheiro. Quando soube que queria seguir arquitetura de interiores?
A paixão pela arquitetura surgiu logo na infância. Enquanto criança, eu observava e acompanhava o meu pai nas suas obras. Eu via as plantas baixas dos projetos e depois reproduzia, mas não como uma criança desenha. Fazia um pequeno projeto de planta, bem mais elaborado, com detalhes e pormenores que identificassem, de facto, a funcionalidade de uma casa. Na verdade, acho que nós nascemos com estas coisas. É uma área que amo. Para mim, a capacidade que a minha profissão me oferece de influenciar toda uma família, de contribuir para a sua rotina, atenta a todas as necessidades de mobilidade e, claro, de união, fazendo com que a casa realmente funcione, é o que mais me motiva. Trabalho para que o meu cliente se sinta confortável e feliz dentro da sua própria casa. É realizador, gratificante e único.
O que é mais importante para si quando inicia um projeto novo?
Começo por dizer que beleza não é tudo num projeto. Antes disso é preciso que sintamos o aconchego e o conforto no ambiente. Não adianta fazer uma coisa copiada ou que está na capa de uma determinada revista, mas que não funcione para aquela família em específico. Para mim é fundamental que o projeto reflita a emoção de quem vive lá. O arquiteto é também um psicólogo, tem de ser capaz de perceber as emoções da família e traduzir isso para o espaço. É por isso que a comunicação prévia é muito importante para se conseguir identificar o carácter e a ambiência desejada, em detalhe, a fim de iniciar todo o processo criativo. Isto requer muita atualização, motivo pelo qual estou constantemente a pesquisar e a viajar para perceber as inovações da área. A minha assinatura procura transcrever os sonhos e, mais do que isso, busca transcrever a alma em cada espaço.
Sendo também empreendedora, abriu em Natal, no Brasil, a franquia da ArteFacto, bem como o projeto HOME.D. Que aspetos positivos retira destas duas experiências?
Sempre fui empreendedora. Desde cedo comecei a aliar o meu escritório pessoal de arquitetura à ambiência das festas de luxo, de que fui precursora na minha cidade natal. Trabalhando já na área mais premium, percebi que o mercado local tinha uma carência de lojas de mobiliário de alto padrão e, após conversa com o CEO da ArteFacto, Paulo Bacchi, resolvi trazer uma franquia para a cidade em 2012. Em paralelo surgiu a HOME.D, complementando a proposta com artigos para casa, visando estreitar a relação e a comunicação com os demais arquitetos. Costumo dizer que o Brasil é um estágio a vários níveis para o empresário, ensina muito. Ser uma mulher empreendedora exige-nos muito mais resiliência — e elegância. É um espaço que, frequentemente, não está pronto para nos receber. Cresci imenso com estas experiências, a nível pessoal e como líder, gestora. O que fica de aprendizagem, alguns podem inclusive interpretá-lo como clichê, mas é fazer tudo com o coração. Amar o que se faz sem, contudo, abdicar da dedicação e, claro, do profissionalismo.
Qual foi o projeto de que mais gostou de realizar?
Sinceramente, todos os projetos que assumi até hoje marcaram-me de alguma forma. Cada um foi e é especial a seu modo, na sua singularidade, pois eu trabalho com exclusividade, com esse olhar mais diferencial, e isso contribui também para minha relação com o projeto. Mas, para falar de um que me é bastante especial, destaco meu primeiro projeto, que foi a cobertura duplex de um norueguês. A casa tinha mais de 300 metros. Foi uma jornada de tal forma emocionante para mim durante o processo criativo que nunca vou esquecê-la. Fiz um salão de beleza de alto padrão no maior centro comercial do meu estado, que muito me orgulha pelos traços de contemporaneidade e estilo, além de projetos com renomadas construtoras e agentes do mercado imobiliário como a Estrutural Brasil, PDG, Ritz Property, e já agora a própria F Luxury. Seja uma casa de alto padrão ou um hotel de luxo, o cuidado é sempre o mesmo, e isso é-me muito caro e especial.
O que gostaria de vir a elaborar?
Eu penso que tenho trabalhado, sobretudo, com aquilo de que gosto. Espaços que me motivam como profissional e como mulher. A exclusividade associa-se à singularidade de cada alma que existe por trás do projeto. Gostava de continuar a fazer este processo de “tradução” neste seguimento de luxo pela originalidade e autenticidade que me permite empreender.
Mãe, esposa, arquiteta… Como consegue conciliar a sua agenda com a vida privada?
É difícil (risos). Penso que todas as mães se deparam com alguma dificuldade, sobretudo pela pressão social. Eu tenho um limite para aceitar trabalho. Peso muito a importância que terá para mim e o impacto no meu trabalho. Antes de mais, acredito que a base familiar é a mãe e, por isso, tenho de estar bem e conseguir acompanhar a evolução de tudo, especialmente dos meus três filhos. Os limites permitem-me prezar pela qualidade em ambas as áreas da minha vida.
Encontra-se agora a empreender o projeto de remodelação dos escritórios da F Luxury. O que foi mais desafiante ao aceitar este convite?
Antes de mais, foi uma honra ter sido escolhida para fazer este projeto. É um planeamento que tem muito a minha cara. A revista alinha-se com aquilo em que eu mais acredito e prezo, tanto na minha vida pessoal quanto na minha vida profissional, o que é fundamental, além de unir temáticas que fazem parte do meu dia a dia com uma qualidade sine qua non e exclusiva. Para mim, fundamental é a qualidade de tudo a que me entrego, sejam os momentos com os meus filhos e a minha família ou com os meus projetos e clientes. A exclusividade é o que torna tudo mais especial e singular. Creio que o meu desafio aqui será deixar a Ysnara leitora/consumidora um bocado mais de lado (risos). Brincadeiras a parte, unir a moda, arte, beleza, gastronomia e um lifestyle premium num mesmo espaço e ainda garantir toda a funcionalidade que se espera de um ambiente jornalístico é uma grande responsabilidade. Sem dúvida ficará lindo, exclusivo, distinto e singular. Já estou ansiosa para verem o resultado!
O que representa para si fazer parte do F Club?
O F Club promove encontros de partilhas reais entre mulheres (sem excluir os homens, claro) que, apesar de vivências e origens distintas, estão entrelaçadas por um único objetivo: o empoderamento feminino no empreendedorismo. É uma oportunidade de conhecer e apresentar negócios do segmento premium e não só a nível de networking, mas de atualização, o que é essencial para o meu trabalho. Encontrar pessoas tão especiais, das mais diversas áreas exclusivas, faz-me perceber que não estamos sós na busca pela igualdade de género no âmbito dos negócios. Discutir os desafios das mulheres na atualidade e a liderança feminina no mercado de luxo é sempre enriquecedor. Fazer parte do F Club é justamente assegurar essa distinção do saber-fazer com excelência, do ser com virtude e bom gosto. É, indubitavelmente, um diferencial.