
Giovana Pinto Leite é uma empresária luso-angolana que, além de gestora de empresas, é investidora do ramo imobiliário. Assumindo-se como empresária em nome próprio em Portugal, acaba de abrir a sua loja The Fancy X no setor de bens de luxo e, no ramo alimentar, detém dois supermercados. A empreendedora Giovana acumula estas responsabilidades com o facto de ser vice-presidente da Fundação RCR de Arte e Cultura Contemporânea Africana. Conheça melhor este novo membro do F Club na entrevista que concedeu à F Luxury.
Com um leque tão vasto de atividades enquanto gestora, como tem conseguido conciliar todas as suas responsabilidades?
Não é fácil claramente, mas não é impossível. Além de tudo isso, sou mãe muito presente da Gabriela, de 8 anos, e do Rafael, de 11, e faço questão de estar sempre presente, organizando a minha agenda em função do tempo deles. Sou também muito dona da minha casa, mas tenho uma equipa bastante profissional tanto em casa como nas empresas com a qual conto e na qual confio.
Organizo a minha agenda para que, no período da manhã, possa resolver tudo o que são telefonemas, emails, reuniões à distância no meu escritório em casa e, no período da tarde, estou presente nos estabelecimentos comerciais.
O objetivo específico da Fundação Cultural RCR é ampliar o conhecimento e a compreensão da cultura de África nos Estados Unidos da América (EUA) através da arte e da educação. De que maneira tem exercido o seu contributo enquanto vice-presidente?
Promovemos a arte e cultura africana contemporâneas através da criação de projetos de intercâmbio cultural entre os dois países. Um deles é a criação de bibliotecas em escolas do segundo ano em Angola com todas as capacidades de comunicação para facilitar e estreitar essas ligações com estudantes dos EUA; outra situação em que estamos agora a trabalhar é no estudo sobre a vida de Nsaku Mvunda, que foi o primeiro embaixador africano enviado pelo Reino do Congo, quando este se converteu ao cristianismo, e recebido no Vaticano pelo Papa Paulo V, para estabelecerem relações com a Santa Igreja. Estamos a fazer todo o trabalho de pesquisa sobre a sua vida e esse seu trajeto que, infelizmente, termina com a sua morte. Trata-se de uma história muito importante e rica da nossa cultura.
Em Portugal, decidiu enveredar pelo ramo alimentar, ao abrir dois supermercados. Como tem corrido esta sua aventura empresarial?
Devo dizer que restauração e comércio alimentar nunca foram do meu interesse. Mas como se diz “o peixe morre pela boca”, eis um negócio que se revelou bastante interessante. A ideia nasceu de uma análise de mercado durante a pandemia de covid-19 e, pelas razões mais óbvias, este foi o ramo que a nível financeiro mais me interessou.
Dá imenso trabalho, mas arregaçar as mangas faz parte de uma educação muito bem estruturada que tive ao longo da minha vida, começando pelos meus pais e irmão.
É um projeto ambicioso e já estou a negociar um terceiro supermercado. O objetivo é chegar aos dez, e essa visão já indica o quão bem tem corrido esta real aventura.
Também por terras lusas, atua no sector de bens de luxo em segunda mão. Como se processa esta sua atividade?
É um conceito de venda à consignação, tendo como base a sustentabilidade. Os nossos clientes podem ser nossos fornecedores e vice-versa; tudo com base num contrato, no caso de fornecedores, com registo detalhado das peças envolvidas no negócio. Trata-se de um espaço na marina de Cascais, The Fancy X (ao qual gosto de chamar fashion gallery) onde são comercializadas obras de arte, relojoaria e joalharia, automóveis de luxo e roupas e acessórios de luxo (marcas premium) em segunda mão. Além disso, temos um espaço champagne lounge – The Fancy L – adjacente à loja onde iremos promover eventos para dinamização desse mesmo conceito e de marcas de terceiros que estejam interessados em divulgar o seu produto num espaço fantástico.
É sabido que vai abrir uma loja de luxo na marina de Cascais. Explique-nos um pouco esta sua novidade.
Os dois espaços serão inaugurados em breve. É um projeto assente na sustentabilidade, como já referi, que já tem alguns anos na minha linha de compromissos/objetivos de vida. A preocupação com os excessos que nós temos vindo a causar deu origem à necessidade de protegermos o ambiente em que vivemos. É, portanto, uma marca que se preocupa com o futuro, pensando na sustentabilidade na sua vertente ambiental, equidade social e viabilidade económica. É no presente que preservamos o futuro.
De que forma é que a sua formação em Angola e a sua experiência em Portugal a têm moldado para ser a mulher que é hoje?
É difícil explicar o que é ser-se angolano (diferente de ter nascido ou ter nacionalidade ou ainda ter visitado Angola). Venho de um país que viveu em guerra durante muitos anos e que sempre teve muitos problemas socioeconómicos, um país com imensa aculturação onde fomos obrigados perante circunstâncias a usar e a abusar da criatividade, a termos muita paciência, a pensar muito nos nossos passos, a sermos sempre otimistas. Aprendemos que não podemos desistir, fomos criados para nos adaptarmos a qualquer circunstância e, acima de tudo, a sentirmo-nos felizes com o quase nada que temos, porque é a realidade que conhecemos e temos de agradecer sempre pelo pouco que aparece.
O que representa para si fazer parte do F Club?
O F Club é o caminho que me permitiu acreditar na possibilidade de concretização deste objetivo de vida. Depois de um almoço com a Fátima, que me incentivou a pôr em prática esse projeto, e da minha presença em dois almoços do F Club, onde pude sentir a dinâmica e importância deste grupo, fez todo sentido para mim tornar-me membro. Percebi que era o caminho de que eu precisava, não só para criar um projeto que me desse rendimento, mas, acima de tudo, por criá-lo com mães e mulheres que se preocupam com um meio melhor para os filhos e familiares.