Considerada uma referência nacional na criação de vestidos de alta-costura, Micaela Oliveira revolucionou a moda nupcial. A sua principal motivação é simples: transformar os sonhos das mulheres em realidade. “Revolucionou” a moda de vestidos de noiva com o cunho da exuberância e sempre com os objetivos bem definidos, Micaela reconhece hoje que a sua marca tem vingado fruto do árduo trabalho desenvolvido nos últimos anos.
Nutriu desde cedo uma ligação com a moda, tendo crescido num ambiente ligado à costura. Porém, decidiu enveredar pela área da economia. O que é que a fez mudar de rumo, levando-a a optar pela moda e a alta-costura?
Economia foi, de facto, a área que escolhi porque achava que queria ser uma pessoa mais executiva, apesar de ter tido sempre uma parte muito criativa e muito curiosa. O facto de a minha mãe trabalhar na área fazia com que eu tivesse um fascínio acrescido em relação a isso. Sempre fui muito autodidata, portanto via e depois tentava reproduzir e agregar mais algum tipo de técnica para ser mais diferenciador. Foi mesmo sentido, ir fazendo coisas, ajudando a minha mãe e percebendo. Foi mesmo isso que me fez mudar de área e, neste momento, pensando bem, não fazia qualquer tipo de sentido ter uma vida tão sedentária. Tenho o privilégio e a honra de poder vivenciar coisas especiais e inesquecíveis e partilhar momentos que ficam marcados nas vidas das pessoas. Tudo isto fascina-me absolutamente dia após dia e faz-me procurar mais e melhor.
Quando é que percebeu que, de facto, era uma criadora e que a moda era a sua forma de comunicar?
Quando percebi que existia uma grande lacuna na moda nupcial, porque, quando eu comecei, só os grandes grupos, no fundo, é que vendiam moda nupcial; era tudo muito clássico. Não havia criadores de moda mais vocacionados para a moda nupcial, e as noivas queriam arrojar-se, queriam algo diferente, e eu fiz um desfile assim, com uma mistura de materiais mais nobres com mais rústicos e bastante sensuais também. Aquilo que eu pensava que seria show-off acabou por ser um show de moda. É num show de moda que um criador pode dar asas à criatividade, fazer conjugações inesperadas e, portanto, foi isso que fiz. Para meu espanto, venderam-se todos, e os pedidos começaram a surgir nesse sentido. Foi aí que me apercebi de que existia uma lacuna na moda nupcial e abracei essa área com muito carinho. Sou muito feliz e sinto-me muito realizada porque realmente são momentos mesmo importantes nas vidas das mulheres e há essa felicidade de poder participar num dia tão especial.
Começou por criar vestidos de noiva. O que mais a fascina nesse universo? Qual considera ser a sua criação mais especial?
É tudo muito subjetivo porque já vivi de facto momentos muito bonitos, alguns mais privados, de figuras públicas, e tive o privilégio de estar e vivenciar tudo aquilo, mas também alguns afastada dos holofotes. E essas recordações são minhas e ficam guardadas na minha memória e na memória daqueles que as proporcionaram e que tornaram aqueles momentos eternos, que eternizaram aqueles momentos comigo. Em especial, acho que cada um no seu próprio registo é especial. Eu tenho noivas que me marcam imenso pela sua personalidade ou pela forma como ficaram felizes e surpreendidas ou choraram naquele momento. A forma como o pai as abraçou no momento em que as viu vestidas de noivas ou a forma como olharam para a mãe. Também quando olham simplesmente para mim e para o espelho, e os seus olhos se enchem de água. Portanto, acho que tenho muita sorte, sou mesmo privilegiada, é uma honra muito grande participar nestes momentos de felicidade.
Os vestidos de noiva Micaela Oliveira tiveram sempre um carácter inovador e arrojado. Em que medida é considerada uma “revolucionária” na moda nupcial?
Aconteceu de uma forma muito natural, foi mesmo o facto de ser uma caraterística minha desde menina, romper um pouco com o convencional e misturar coisas que não faziam sentido nenhum e que a minha mãe até achava uma patetice. Mas a verdade é depois fiz com que vários criadores de moda nupcial surgissem. Quando eu surgi, havia muitos poucos de que eu tivesse conhecimento. Eram realmente tão poucos que eu tive um boom enorme e foi realmente na moda nupcial, ao contrário do que possa pensar-se, porque normalmente as pessoas associam-me mais a figuras públicas. Eu já era a pessoa mais pesquisada de moda nupcial do país, segundo as melhores revistas. Acho que é por isso que sou considerada revolucionária, mudei realmente a forma como as noivas se apresentam. E o facto de eu conseguir olhar para uma noiva, identificar as suas principais características, os traços de personalidade mais vincados, olhar para toda a sua fisionomia e potenciar aquilo que tem de melhor e disfarçar aquilo com que ela se sente menos confortável torna as peças especiais e diferenciadas. Apesar de terem o meu cunho, também têm o gosto e personalidade de quem as usa.
Como foi a sua entrada no universo da alta-costura? Como foi aderir a novos conceitos de luxo e requinte?
Eu sempre bordei muito e lembro-me de ser pequenina e bordar coisas que via na Chanel com bordados em pele. Eu comprava a pele, as tachas e as missangas e depois bordava tudo à mão. O facto de eu achar piada a coisas diferentes fez com que eu enveredasse por este caminho, porque não era normal, era fora do comum, e era isso que me aliciava. Acho que as coisas normais são mais fáceis e menos complexas, e eu gosto de desafios e de me superar. Eu visito imensas feiras por ano, Nova Iorque, Las Vegas, Colômbia… e gosto muito de conhecer o artesanato local quando viajo. Acho que isto torna tudo muito mais rico. É por isso que estou sempre em busca de coisas novas e requintadas.
Nas senhoras que a procuram, ainda identifica o sonho de meninas a quererem ser princesas? O que mais a fascina numa cliente que a procura?
O que mais me fascina nas minhas clientes é o carinho e a admiração que elas nutrem por mim. Fascina-me perceber que estou a trabalhar descontraidamente e perceber os olhares delas quando olham para mim de uma forma tão observadora. Acredito que me dão ainda mais valor e que se sentem ainda mais atraídas por mim e pelo meu trabalho devido à minha forma de ser e estar.
Reside no Norte. O Porto tem-lhe servido como fonte especial de inspiração?
Sem dúvida. Temos rio, temos mar, temos tudo. Aqui no Porto temos tudo, e é uma cidade linda, maravilhosa e inspiradora. Tenho um sem-número de coisas inspiradoras aqui. A Natureza é uma fonte de inspiração inesgotável. Somos abençoados com este planeta e por isso também temos de o defender. Eu uso muitos materiais recicláveis, cada vez mais pessoas têm essa sensibilidade e procuram rentabilizar os próprios vestidos que adquirem para outras ocasiões. É importante estarmos atentos e não comprarmos fast fashion, porque não estamos a ser amigos do ambiente.
A nível internacional, depois de passar pela Angola Fashion Week e pela Mozambique Fashion Week, como tem sido acolhida a sua forma de fazer moda?
Antes de falar na Angola Fashion Week e na Mozambique Fashion Week, queria referir que fui convidada de honra da abertura do segundo maior certame de moda nupcial do mundo, na Turquia – o mais importante é em Barcelona. São os maiores produtores de moda nupcial do mundo e eu fui convidada para abrir o certame. Foi mesmo incrível, eram 2500 pessoas sentadas, mais de duas dezenas de países convidados, 35 manequins e uma passerelle com 30 metros de comprimento por 6 metros de largura.
Além das Semanas de Moda de Angola e Moçambique, também fui convidada para fazer desfiles no Bahrein, na Martinica, na República Dominicana, em Londres, em Madrid… houve já vários países para onde fui convidada.
Fui também convidada para expor um vestido no Pavilhão de Portugal da Expo Dubai, com um trabalho que desenvolvi com filigrana proposto por mim à Câmara Municipal de Gondomar, que foi aceite. Também estive presente no Festival de Cannes, fiz um desfile de red carpet Micaela Oliveira, onde vesti várias celebridades. Fiz também um desfile privado para clientes na Chopard.
Relativamente a figuras internacionais, vesti recentemente a Nicole Scherzinger, das Pussy Cat Dolls.
O seu trabalho foi já distinguido várias vezes. Como se sentiu?
Fui condecorada recentemente com uma medalha de mérito e recebi também um diploma durante o Jubileu da rainha, uma condecoração atribuída pelo Parlamento da Inglaterra. Honrou-me bastante, naturalmente. Há muitas coisas de que me orgulho, mas isto também foi muito importante para mim.
Além de desenvolver vestidos de noiva e de cerimónia, o que lhe falta ainda alcançar no mundo da moda?
Já fiz o Portugal Fashion, desfiles e produções por todo o mundo, e as coisas foram-me sempre acontecendo de uma forma muito natural; os convites foram surgindo e eu fui abraçando alguns. Neste momento, a curto prazo, o que me falta são mesmo as minhas instalações novas. Já sinto falta delas há imensos anos e estou muito ansiosa.
Se tivesse de definir numa única palavra o conceito da sua marca, qual seria?
A minha marca é transversal a todas as mulheres, desde uma mulher mais clássica a uma mais exuberante. Tenho a doçura na sensualidade, isto é, consigo aliar uma sensualidade doce a uma irreverência clássica. Consigo fazer um jogo de sedução que as minhas clientes adoram. Uma mulher independente, que sabe o que quer, bem resolvida, de bem com a vida, que não tem receio do julgamento e livre, acima de tudo.