Desde cedo, a paixão de Lucinda Pinto pela organização de eventos e o catering fez com que iniciasse a sua atividade nesta área. Com mais de trinta anos de experiência profissional na área do catering e restauração, hoje é partner do Food Design Lab – Lisbon e da Imppacto, Catering Eventos, uma das maiores empresas de catering em Portugal.
No seu currículo, constam a gestão global de um conjunto de empresas ligadas à área da restauração e catering, assim como a realização de milhares de eventos de catering no nosso país. Olhando para trás, como avalia este seu percurso?
Após 25 anos de Imppacto, a avaliação recai sobre um sentimento de concretização de todos os objetivos que nos propusemos atingir. Foi um percurso feito de altos e baixos, mas sempre com a ideia em mente de que aquilo que fazemos oferece e supera a qualidade que os nossos clientes exigem. Resiliência e paixão, sem eles não poderíamos ter construído uma das maiores empresas de catering do país. O sentimento de concretização pessoal e profissional é talvez o melhor contributo que recebo todos os dias desde que iniciámos este projeto. E claro, as histórias que ficam e se recordam vezes sem conta.
Como foi passar de uma empresa familiar de catering para casamentos para uma de eventos públicos de grande dimensão?
A passagem foi natural. Penso que foi um crescimento gradual que nos obrigou a reestruturar e a repensar os nossos próprios métodos de trabalho. São realidades distintas, o catering de casamentos exige a realização de sonhos, dias únicos e emoções, enquanto os eventos corporate de grande dimensão envolvem logísticas e equipas diferentes. A base, no entanto, deve ser a mesma, a qualidade e a criatividade nos menus, e proporcionar experiências em diferentes conceitos.
A Imppacto, Catering & Eventos, líder de mercado, foi alvo de uma recente modernização. Em que consistiu?
Estamos a apostar na inovação, na experiência e na criatividade. Atualmente, o cliente não quer apenas “comer”; o serviço de catering deixou de ser apenas os “canapés” que passam pelos eventos enquanto as pessoas conversam. O cliente hoje quer (e exige) experiências, quer recordar o que comeu, quer que os sentidos sejam exaltados para que se recorde o evento e também a experiência global. Estamos por isso a investir em mais tecnologia e formação contínua. Estamos a meio de um projeto de centralização da Imppacto que visa facilitar a comunicação interna e permitir um maior controlo do ponto de vista global da empresa. O caminho é a modernização da Imppacto e de todos os projetos paralelos que contribuem para um objetivo comum, “proporcionar experiências memoráveis”.
Na senda da inovação, criou recentemente o Food Design Lab. Qual o objetivo?
O Food Design Lab surge de uma vontade e de um sonho. Todos sabemos os problemas que existem na alimentação de um modo global: as novas dietas, os novos produtos, as fontes alternativas de proteína, as novas doenças alimentares e os próprios paradoxos da alimentação: riqueza vs. pobreza ou falta vs. excesso. O Food Design Lab é um espaço de inovação, conhecimento e experiências alimentares. Atuamos em três áreas distintas: a criação de experiências alimentares que promovam a identidade gastronómica das comunidades locais, com serviços que vão desde a criação de menus, em colaboração com chefs, à criação de conceitos; a inovação alimentar, através de um laboratório equipado para o desenvolvimento de produtos e receitas para a indústria e restauração; e o conhecimento, que passa pela realização de workshops, cursos, conferências e seminários para consumidores e profissionais com diversos especialistas nacionais e internacionais na área da alimentação, gastronomia e design.
O Food Design Lab é um projeto complementar à Imppacto, Catering & Eventos?
Todos os projetos em que estou envolvida são complementares uns dos outros, nem faria sentido de outro modo. Para nós fazia sentido criar um conceito que não existisse em Portugal, pelo menos neste sentido, um laboratório de experimentação para o desenvolvimento e criação de produtos, serviços e experiências gastronómicas que tivesse o design como pilar de trabalho. Normalmente, quando falamos de design ou food design, a ideia que as pessoas têm é de “apresentação, estética, ou algo elitista”, o que não é de todo aquilo que o design representa na sociedade contemporânea, i.e., um processo, um método com ferramentas próprias que procura encontrar soluções para as pessoas. O Food Design Lab é isso mesmo, um projeto que procura encontrar soluções gastronómicas e responder aos desafios dos nossos clientes, seja um produto, um serviço ou uma experiência.
Seja numa experiência gastronómica privada ou num evento público de grande escala, o que é aquilo de que não prescinde?
A garantia de qualidade e de que o que estamos a fazer supera as expectativas do cliente. Há outros aspetos dos quais não prescindimos como empresa que tem responsabilidades do ponto de vista social e que nos dias de hoje devem fazer parte da nossa filosofia. É o caso da sustentabilidade, a preferência por produtores locais, a sazonalidade dos ingredientes ou o desperdício alimentar. Como empresa, não podemos proporcionar um determinado tipo de experiência se esta não for holística e não se pensar que a economia circular é hoje um dever das empresas e da sociedade.
Hoje, qual continua a ser a sua maior paixão profissional?
A minha maior paixão profissional é continuar “apaixonada” pelo que faço. É continuar a receber o feedback positivo dos clientes, ver o seu ar de satisfação e realização, e motivar as equipas que trabalham connosco todos os dias e se tornam parte da família. É, acima de tudo, continuar a querer sempre mais e melhor em relação ao que fazemos, sermos uma referência no mercado, e que os clientes continuem a voltar evento após evento. Como já referi, continuar a proporcionar “experiências memoráveis”.
Qual é aquele projeto ainda por realizar?
Há sempre projetos por realizar, principalmente quando nos rodeamos de pessoas criativas que estão sempre em ebulição de ideias, a pensar no amanhã e no que pode ainda fazer-se para melhorar.
Talvez o projeto por realizar seja “um espaço”, “um restaurante” ou um conceito que talvez ainda nem exista para proporcionar experiências memoráveis às pessoas através da comida. Um conceito de fine dining diferenciador, inovador e criativo, que permita às pessoas viver e participar da experiência, que seja sustentável e que passe uma mensagem positiva aos nossos clientes.
A nossa vida, mesmo que inconscientemente, gira à volta da “comida”, que é talvez o melhor meio de comunicação entre as pessoas. Brillat-Savarin já dizia “Diz-me o que comes, dir-te-ei quem és”; no meu caso, talvez a frase “Diz-me o que fazes, dir-te-ei quem és” se aplique melhor. Sou por natureza um espírito irrequieto que procura concretização pessoal e profissional, e, enquanto estiver apaixonada pelo que faço, vão sempre existir projetos por realizar, vão sempre existir ideias para pôr em prática.