
Decoradora de interiores, designer, cenógrafa, produtora de eventos… Cláudia Perdigão é uma empresária que, desde cedo, enveredou pelo ramo da decoração de grandes espaços, assim como de festas, casamentos, eventos corporativos e decorações de shoppings, tendo sabido aplicar toda a sua criatividade em prol dos desafios que se lhe foram sendo apresentados. Toda uma experiência revelada agora em entrevista por esta nossa oradora convidada no âmbito do próximo almoço do F Club.
Há trinta anos, iniciou em Portugal uma atividade que quer tornar mais bonitos e únicos os eventos especiais. Com que desafios se deparou e como conseguiu lidar com eles?
Na verdade, em fevereiro, faz 35 anos que cheguei a Portugal. E não comecei logo a trabalhar em eventos. Isto apesar de, no Brasil, montar festas temáticas desde os meus dezassete anos, assim como festas de réveillon, halloween, Natal e outras em clubes famosos do Rio de Janeiro. No entanto, ao chegar a Portugal, percebi que ainda não poderia focar-me nessa área, de modo que comecei a ver qual o tipo de negócio eu poderia criar. Iniciei um pequeno artesanato de jogos com individuais para mesas e argolas de guardanapo, que mantive durante cerca de cinco anos. Cheguei a ter cinco funcionárias e vendi mais de cinquenta trabalhos criados por mim em Portugal continental e nas ilhas. Foi então que, em 1992, tive a oportunidade de apresentar um projeto de Natal para o CascaiShopping e com esse projeto venci a concorrência. A partir daí, iniciei a minha empresa especializada em decorações de Natal para grandes espaços. Com a Agência da Casa Decor, acabei por tornar-me pioneira no mercado português, criando decorações inusitadas e totalmente autorais, que são procuradas até hoje, assim como o icónico presépio das Amoreiras [Amoreiras Shopping Center], entre outros. Só mais tarde é que consegui voltar em força com outros eventos. Quanto ao Natal, ainda é algo por que sou muito solicitada, mas que reduzi bastante, por minha livre e espontânea vontade, uma vez que era uma atividade muito concentrada num único período do ano. E eu sempre quis diversificar a minha arte por outros setores.
Em que medida ser uma mulher vinda de fora contribuiu para a sua visão de negócio no nosso país?
Acho que contribuiu muito. O Brasil é um país muito criativo e, como todos sabem, uma referência no setor dos eventos. Apesar de ter saído muito nova do Rio de Janeiro, já trazia um curriculum razoável, com realizações de festas, decorações de montras, decorações de interiores, além de ter mantido, ao longo de todos estes anos, uma grande proximidade, com viagens frequentes ao Brasil. Por exemplo, quando resolvi direcionar os meus negócios mais para o mundo dos eventos, fui a São Paulo fazer uma série de cursos de especialização, desde wedding planner a design floral, passando por decoração de eventos, estacionário, entre outros. Estar atualizada e informada sobre as novas tendências é fundamental e, na verdade, ao longo de toda a nossa vida, devemos continuar a aprender.
Afirma, com orgulho, que nunca repetiu uma decoração ao longo do seu percurso profissional. Num panorama cada vez mais competitivo, em que se distinguem as suas criações?
Eu não faço nada igual, as minhas decorações são autorais. No entanto, reciclo muitas coisas, pois tenho um acervo muito grande no meu armazém de composições criadas por mim e feitas pelas minhas próprias mãos. Talvez seja isso o que melhor distingue o meu trabalho e, por esse motivo, tenho orgulho em assinar o meu nome. Para um criativo como eu, há duas coisas muito importantes. A primeira é mostrar o potencial criativo, ou seja, a ideia e a forma como a criação resultante de uma ideia pode impactar o resultado final. É a capacidade de mostrar ao cliente várias soluções, seja uma festa, um cenário ou um simples arranjo floral. O segundo aspeto importante é a realização criativa, que passa por mostrar, através da concretização de um projeto, que esse mesmo projeto resulta no mundo real, fora do papel. Essa realização pode ser comprovada através do histórico profissional e dos eventos realizados com sucesso.
Quais são os seus principais clientes e que feedback lhe dão do seu trabalho?
Depois de ter reduzido a minha atividade no setor do Natal, foquei-me nos presépios e na parte cenográfica desse tipo de décor. Eu mantenho alguns clientes seletos e que considero, mas, sem dúvida, atualmente, a Mundicenter [N.R. empresa do Grupo Alves Ribeiro que atua no setor da gestão e promoção imobiliária] é o meu maior cliente, para o qual crio os meus melhores presépios, como os das Amoreiras, do Oeiras Parque e do Braga Parque. O feedback não poderia ser melhor. Basta ver a evolução e o sucesso de cada Natal naqueles locais nos últimos anos.
Dos inúmeros projetos de decoração que já realizou, qual é aquele que não esquece e porquê?
É difícil dizer. Por estarmos no Natal, resolvi fazer uma retrospetiva dos meus últimos 29 anos e acabei por surpreender-me com muitas decorações que fiz e que ficaram magníficas, e das quais me tinha esquecido. Apenas posso afirmar que sou uma apaixonada pelo que já fiz e também pelo que ainda faço. Quando se acredita, quando há dedicação, foco e amor pelo nosso trabalho, os resultados positivos acabam por chegar.
Tem um percurso preenchido, é uma designer multifacetada. Como é que se identifica enquanto mulher e profissional?
Sinto-me realizada. E não só como designer. Costumo dizer que tenho um leque muito aberto no setor das artes, mas, também como mulher, posso afirmar que estou realizada. Tenho um casamento feliz, de muitos anos, com um parceiro que me ajuda em absolutamente tudo, e um filho maravilhoso. Uma família incrível que sempre esteve ao meu lado, mesmo nos momentos de crise, que, obviamente, todos nós acabamos por enfrentar na vida.
Qual é a sua perceção da mulher, enquanto profissional, nos mais variados quadrantes da vida empresarial atual?
Confesso que já passei por vários desafios como mulher ao longo da minha carreira. Desde a aceitação a aprender a impor aquilo que quero, a mostrar que sou capaz e, por vezes, a ter de provar que posso ser mais forte até do que alguns homens. Hoje, tudo é mais fácil, uma vez que muitas barreiras já foram quebradas pelas mulheres e estamos cada dia mais fortes e poderosas. No entanto, ainda não podemos deixar de lado as nossas revindicações e temos de continuar a nossa luta, provando que somos todos iguais, homens, mulheres, não importa a condição, a raça ou a cor. O importante é que somos humanos e todos temos o direito de mostrar o nosso valor.
Para si, o que significou decorar as mesas do evento de celebração do primeiro aniversário do F Club?
Conhecer a Fátima Magalhães e toda a sua equipa, parceiros e colaboradores, foi, para mim, um privilégio. O evento do F Club foi delicioso de decorar, com muito requinte e muitos pormenores, num local que adoro, que é o Tivoli Palácio de Seteais. Trouxe-me uma grande satisfação. Quando assumo um projeto, seja grande ou pequeno, chique ou mais simples, o importante é que o resultado final seja surpreendente e supere as espectativas do cliente. E, claro, que contribua para a minha realização pessoal enquanto artista.