Formada em Gestão, a que se seguiu uma pós-graduação em auditoria financeira e o curso da ordem dos Revisores Oficiais de Contas – especializando-se na qualidade de R.O.C. e, paralelamente, como contabilista certificada – Marta Black assume hoje a direção geral da Sensai Portugal. Em entrevista, a mulher e profissional que todos os dias, como nos revela, é inspirada pela beleza da seda Koishimaru, “a rainha das sedas” e o ingrediente principal dos produtos da marca de beleza de luxo Sensai.
Qual foi o seu primeiro trabalho e de que forma este ainda hoje se revela importante como experiência?
Foi na África do Sul, onde trabalhei como tesoureira do grupo Del Monte, uma empresa multinacional produtora de fruta, polpa, sumo, entre outros. Fui sozinha para aquele país, aos 22 anos, e esta experiência, de ter estado sozinha, tão longe e durante tanto tempo (quase dois anos), foi avassaladora. De tal forma que ainda hoje me ajuda a enfrentar os trabalhos mais duros e a entender que por muito duro que seja, eu consigo dar a volta. Foi ainda extremamente importante para testar a minha capacidade de adaptação, num país que tinha passado por um apartheid há pouco tempo. A minha chegada a um ambiente tumultuoso foi complicada, tive de, rapidamente, ajustar-me aos costumes tão diferentes daqueles a que estava habituada.
Qual o seu papel na Sensai em Portugal e o que a inspira neste universo da beleza de luxo, sustentada pela mais apurada pesquisa?
Fiz a startup da empresa em 1998 – naquela época a marca ainda se chamava Kanebo. Hoje sou diretora geral e, todos os dias, me sinto inspirada pela beleza da seda Koishimaru, a rainha das sedas e o ingrediente principal dos nossos produtos. O que considero um privilégio e um enorme fator de motivação.
Liderar este projeto significa um salto na sua carreira? De que forma?
Foi progressivo. Comecei por fazer de tudo um pouco, desde trabalho administrativo, cobranças, prospeção de mercado, relações públicas até, mais tarde, aos planos de marketing, gestão de recursos, definição dos budgets anuais, preparação de lançamentos, entre outros. Entretanto, voltei às origens, fazendo grande parte do todo que é a Sensai em Portugal. Claro que 22 anos neste meio da cosmética seletiva é muito tempo, o salto não foi todo de uma vez, fui ‘saltando’… é algo que me enche de muito orgulho, quando olho para trás, rever todo o caminho percorrido, sinuoso e cheio de pedras, com todos os seus altos e baixos, mas, no geral, este caminho teve mais altos do que baixos e com a equipa certa o percurso faz-se lado a lado. Juntos, todos ajudam a remover as pedras, fazendo desta caminhada algo estável e harmonioso.
O que há de mais interessante, e até desafiante, na sua atual atividade profissional?
O mais interessante são, sem dúvida, as pessoas com quem me cruzo, o que vou aprendendo com elas, a evolução que demonstram ao longo dos tempos; trabalho com pessoas há 20 anos – quase uma vida! O mais desafiante é estar constantemente à procura de novas ferramentas para melhorar e crescer de forma saudável no meio de uma concorrência feroz.
Como é o cliente Sensai? O que melhor poderia defini-lo?
É exigente e muito conhecedor do que está a comprar, é taurino na forma como encara a beleza, tem um gosto refinado e aprecia o luxo no seu todo: desde um creme Ultimate até ao derradeiro pôr-do-sol.
Como é descobrir uma nova linha e / ou produto a cada lançamento?
É como uma criança a abrir um presente: excitada, entusiasmada e esperançosa do que aí vem. Uma coisa é certa: o nosso departamento de R&D é exímio e como orientais que são, só lançam um produto quando têm a certeza que este vem para acrescentar algo ao mercado. Podem passar anos, mas o objetivo é superior, nunca perder face – algo muito importante no Oriente – e apresentar sempre o melhor que temos para dar.
De que forma o mundo Sensai também mexeu com o seu universo pessoal?
Com tantos anos de simbiose há coisas que já não mudam, até posso sair da Sensai, mas a Sensai já não sai de mim. Todo o requinte e delicadeza em que está envolta a marca fazem hoje parte de mim. Também eu procuro rodear-me de pessoas belas por fora, mas sobretudo por dentro, porque a beleza, tal como a Sensai, vem de dentro.
Onde se vê daqui a cinco anos?
A passar umas férias num destino de sol sem máscaras e a desfrutar do melhor que a vida tem para nos oferecer: a nossa família.
O que é para si um bom gestor?
É aquele que está atento à empresa no seu todo, mas sobretudo atento às pessoas que ali trabalham; que trata as pessoas como elas gostam de ser tratadas, que tem tanto de exigente como de compreensível. Que não se deixa iludir, que sabe mais do que os outros, mas que tem de saber ouvir e não se achar o ‘dono’ da razão. Ser Humano com os outros e defender a equipa, sempre. Dar a cara. Tomar decisões tendo em conta o interesse global, conjunto, da empresa e não um interesse particular.
O que sugere a todas as mulheres que lideram projetos e equipas em prol do sucesso e de um bom ambiente de trabalho?
Que sejamos todas melhores umas para as outras. Neste ponto, acho que estamos a evoluir bastante. Trabalho muito bem com mulheres, sei que posso contar com elas, e costumam ter um olhar mais doce sobre o próximo. São mais compreensíveis e menos focadas só em números. Os números são, naturalmente, muito importantes, mas primar por munir as equipas de ferramentas em prol de um bom ambiente de trabalho, em que todos os colaboradores estão motivados e orgulhosos da sua equipa, é um papel em que as mulheres, quando são boas, são superiores. E se assim for, os números acabam por acontecer.
Alguma vez sentiu que um desafio poderia estar perto de ser intransponível? Como lidou com esse facto?
Várias vezes. Penso que é um ato de inteligência (emocional) saber desistir. Aquelas pessoas que “nunca desistem” ou que acham que “desistir é para os fracos” podem passar uma vida inteira a tropeçar no desafio quando podiam dar um salto e procurar um outro desafio que seja exequível. O “nunca desisto” pode sair muito caro e revelar-se um grande desperdício de energia. Como lido com situações intransponíveis? Muito bem: parto para outra, basta estarmos atentos porque o universo dá-nos todos os sinais.
Por Isabel Figueredo